Período pré-descobrimento (até 1500)
Mapa da América do Sul de 1575.Ver artigos principais: Pré-História do
Brasil.
Quando descoberto pelos portugueses em 1500, estima-se que o atual
território do Brasil (a costa oriental da América do Sul), era habitado
por 2 milhões de indígenas, do norte ao sul.
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Período colonial |
A população ameríndia era repartida em grandes nações indígenas (atentar
pois falando de indígenas o termo "nação" não tem o peso que conhecemos)
compostas por vários grupos étnicos entre os quais se destacam os
grandes grupos tupi-guarani, jê e aruaque. Os primeiros eram
subdivididos em guaranis, tupiniquins e tupinambás, entre inúmeros
outros. Os tupis se espalhavam do atual Rio Grande do Sul ao Rio Grande
do Norte de hoje. Segundo Luís da Câmara Cascudo[1], os tupis foram «a
primeira raça indígena que teve contacto com o colonizador e (…)
decorrentemente a de maior presença, com influência no mameluco, no
mestiço, no luso-brasileiro que nascia e no europeu que se fixava». A
influência tupi se deu na alimentação, no idioma, nos processos
agrícolas, de caça e pesca, nas superstições, costumes, folclore, como
explica Cascudo:
«O tupi era a raça histórica, estudada pelos missionários, dando a tropa
auxiliar, recebendo o batismo e ajudando o conquistador a expulsar
inimigos de sua terra. (…) Eram os artífices da rede de dormir,
criadores da farinha de mandioca, farinha de pau, do complexo da goma de
mandioca, das bebidas de frutas e raízes, da carne e peixe moqueados,
elementos que possibilitaram o avanço branco pelo sertão».
Do lado europeu, a descoberta do Brasil foi precedida por vários
tratados entre Portugal e Espanha, estabelecendo limites e dividindo o
mundo já descoberto do mundo ainda por descobrir.
Destes acordos assinados à distância da terra atribuída, o Tratado de
Tordesilhas (1494) é o mais importante, por definir as porções do globo
que caberiam a Portugal no período em que o Brasil foi colônia
portuguesa. Estabeleciam suas cláusulas que as terras a leste de um
meridiano imaginário que passaria a 370 léguas marítimas a oeste das
ilhas de Cabo Verde pertenceriam ao rei de Portugal, enquanto as terras
a oeste seriam posse dos reis de Castela (atualmente Espanha). No atual
território do Brasil, a linha atravessava de norte a sul, da atual
cidade de Belém do Pará à atual Laguna, em Santa Catarina.
Quando soube do tratado, o rei de França Francisco I teria indagado qual
era "a cláusula do testamento de Adão" que dividia o planeta entre os
reis de Portugal e Espanha e o excluía da partilha.
Período colonial (1500-1808)
A chegada dos portugueses
Descoberta do Brasil
Litografia de Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil em 1500, em
rótulo de cigarros do Brasil.No dia 22 de abril de 1500, o então
português Pedro Álvares Cabral, saindo de Lisboa, iniciou viagem para
oficialmente descobrir e tomar posse das novas terras para a Coroa, e
depois seguir viagem para a Índia (contornando a África para chegar a
Calecute). Levava duas caravelas e 13 naus, e de 1.200 a 1.500 homens -
entre os mais experientes Nicolau Coelho, que acabava de regressar da
Índia; Bartolomeu Dias, que descobrira o cabo da Boa Esperança, e seu
irmão Diogo Dias (que mais tarde Pero Vaz de Caminha descreveria
dançando na praia em Porto Seguro com os índios, « ao jeito deles e ao
som de uma gaita»). As principais naus se chamavam Anunciada, São Pedro,
Espírito Santo, El-Rei, Santa Cruz, Fror de la Mar, Victoria e Trindade
(RIBEIRO, «História do Brasil», pág.43). O vice-comandante da frota era
Sancho de Tovar e outros capitães eram Simão de Miranda, Aires Gomes da
Silva, Nuno Leitão, Vasco de Ataíde, Pero Dias, Gaspar de Lemos, Luís
Pires, Simão de Pina, Pedro de Ataíde, de alcunha o inferno, além dos já
citados Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias. Por feitor, a armada trazia
Aires Correa, que havia de ficar na Índia, e por escrivães Gonçalo Gil
Barbosa e Pero Vaz de Caminha. Entre os pilotos, que eram os verdadeiros
navegadores, vinham Afonso Lopes e Pero Escobar. Diz a Crônica do
Sereníssimo Rei D. Manuel I:
«E, porque el Rei sempre foi mui inclinado às coisas que tocavam a nossa
Santa fé católica, mandou nesta armada oito frades da ordem de S.
Francisco, homens letrados, de que era Vigário frei Henrique, que depois
foi confessor del Rei e Bispo de Ceuta, os quais como oito capelães e um
vigário, ordenou que ficassem em Calecut, para administrarem os
sacramentos aos portugueses e aos da terra se se quisessem converter à
fé.»
Âncoras levantadas em Lisboa, a frota passou por São Nicolau, no
arquipélago de Cabo Verde, em 16 de março. Tinham-se afastado da costa
africana perto das Canárias, tocados pelos ventos alísios em direção ao
ocidente. Em 21 de abril, da nau capitânea avistaram-se no mar, boiando,
plantas. Mais tarde surgiram pássaros marítimos, sinais de terra
próxima. Ao amanhecer de 22 de abril ouviu-se um grito de "terra à
vista", pois se avistou o monte que Cabral batizou de Monte Pascoal, no
litoral sul da atual Bahia.
Detalhe do mapa "Terra Brasilis" (Atlas Miller, 1519), atualmente na
Biblioteca Nacional de França.Ali aportaram as naus, discutindo-se até
hoje se teria sido exatamente em Porto Seguro ou em Santa Cruz Cabrália,
e fizeram contato com os tupiniquins, indígenas pacíficos. A terra, a
que os nativos chamavam Pindorama ("terra das palmeiras"), foi a
princípio chamada pelos portugueses de Ilha de Santa Cruz e nela foi
erguido um padrão (marco de posse em nome da Coroa Portuguesa). Mais
tarde, a terra seria rebatizada como Terra de Vera Cruz e posteriormente
Brasil. Estava situada 5.000km ao sul das terras descobertas por
Cristóvão Colombo em 1492 e 1 400 quilômetros aquém da Linha de
Tordesilhas. Sérgio Buarque de Holanda descreve, em História Geral da
Civilização Brasileira:
«Tendo velejado para o norte, acharam dez léguas mais adiante um
arrecife com porto dentro, muito seguro. No dia seguinte, sábado,
entraram os navios no porto e ancoraram mais perto da terra. O lugar,
que todos acharam deleitoso, proporcionava boa ancoragem e podia abrigar
mais de 200 embarcações. Alguma gente de bordo foi à terra, mas não pode
entender a algaravia dos habitantes, diferente de todas as línguas
conhecidas».
Detalhe da A Primeira Missa no Brasil de Victor Meirelles (1861)No dia
26 de abril, um domingo (o de Pascoela), foi oficiada a primeira missa
no solo brasileiro por frei Henrique Soares (ou frei Henrique de
Coimbra), que pregou sobre o Evangelho do dia. Batizaram a terra como
Ilha da Vera Cruz no dia 1 de maio e numa segunda missa Cabral tomou
posse das terras em nome do rei de Portugal. No mesmo dia, os navios
partiram, deixando na terra pelo menos dois degredados e dois grumetes
que haviam fugido de bordo. Cabral partiu para a Índia pela via certa
que sabia existir a partir da costa brasileira, isto é, cruzou outra vez
o Oceano Atlântico e costeou a África.
O rei D. Manuel I recebeu a notícia do descobrimento por cartas escritas
por Mestre João e Pero Vaz de Caminha, semanas depois. Transportadas na
nau de Gaspar de Lemos, as cartas descreviam de forma pormenorizada as
condições geográficas e seus habitantes, desde então chamados de índios.
Atento aos objetivos da Coroa na expansão marítima, Caminha informava ao
rei:
«Nela até agora não podemos saber que haja ouro nem prata, nem alguma
coisa de metal nem de ferro lho vimos; pero a terra em si é de muitos
bons ares, assi frios e temperados como os d'antre Doiro e Minho, porque
neste tempo de agora assi os achamos como os de lá; águas são muitas
infindas e em tal maneira é graciosa, que querendo aproveitar-se
dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem; pero o melhor fruto que
nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente (...) boa e de
boa simplicidade».
Damião de Góis narra o descobrimento em sua língua renascentista:
«Navegando a loeste, aos xxiiij dias do mes Dabril viram terra, do que
forão muito alegres, porque polo rumo em que jazia, vião não ser nenhuma
das que até então eram descubertas. Padralures Cabral fez rosto para
aquela banda & como forão bem à vista, mandou ao seu mestre que no
esquife fosse a terra, o qual tornou logo com novas de ser muito fresca
& viçosa, dizendo que vira andar gente baça & nua pela praia, de cabelo
comprido & corredio, com arcos & frechas nas mãos, pelo que mandou
alguns dos capitães que fossem com os bateis armados ver se isto era
assi, os quaes sem sairem em terra tornaram à capitaina afirmando ser
verdade o que o mestre dixera. Estando já sobrancora se alevantou de
noite hum temporal, com que correram de longo da costa ate tomarem hum
porto muito bom, onde Pedralures surgio com as outras naos & por ser tal
lhe pos nome Porto Seguro».
Além das cartas acima mencionadas, outro importante documento sobre o
descobrimento do Brasil é o Relato do Piloto Anônimo.
De início, a descoberta da nova terra foi mantida em sigilo pelo Rei de
Portugal. O resto do mundo passou a conhecer o Brasil desde pelo menos
1507, quando a terra apareceu com o nome de América na carta (mapa) de
Martin Waldseemüller, no qual está assinalado na costa o Porto Seguro.
A controvérsia sobre o descobrimento será estudada em verbete à parte,
dada sua extensão.
Expedições exploratórias
Em 1501, uma grande expedição exploratória, a primeira frota de
reconhecimento, com três naus, encontrou como recurso explorável apenas
o pau-brasil (madeira avermelhada e valiosa usada na tinturaria
européia), mas fez um levantamento da costa. Comandada por Gaspar de
Lemos, a viagem teve início em 10 de maio de 1501 e findaria com o
retorno a Lisboa em 7 de setembro de 1502, depois de percorrer a costa e
dar nome aos principais acidentes geográficos. Sobre o comandante, podem
ter sido D. Nuno Manuel, André Gonçalves, Fernão de Noronha, Gonçalo
Coelho ou Gaspar de Lemos, sendo este último o nome mais aceito. Em
1501, no dia 1 de novembro, foi descoberta a Baía de Todos os Santos, na
atual Bahia, local que mais tarde seria escolhido por D. João III para
abrigar a sede da administração colonial.
Alguns historiadores negam a hipótese de Gonçalo Coelho, que só teria
partido de Lisboa em 1502. O Barão do Rio Branco, em suas Efemérides,
fixa-se em André Gonçalves, que é a versão mais comumente aceita. Mas
André Gonçalves fazia parte da armada de Cabral, que retornou a Lisboa
quando a expedição de 1501 já partira para o Brasil e com ela cruzou na
altura do arquipélago de Cabo Verde.
Assim, diversos historiadores optam por Gaspar de Lemos, que entre junho
e julho de 1500 havia chegado a Portugal com a notícia do descobrimento.
O florentino Américo Vespúcio vinha como piloto na frota (e por seu nome
seria batizado todo o continente, mais tarde). Depois de 67 dias de
viagem, em 16 de agosto, a frota alcançou o que hoje é o Cabo de São
Roque (Paraíba) e, segundo Câmara Cascudo, ali plantou o marco de posse
mais antigo do Brasil. Houve, na ocasião, contatos entre portugueses e
os índios potiguares.
Ao longo das expedições, os portugueses costumavam batizar os acidentes
geográficos segundo o calendário com os nomes dos santos dos dias,
ignorando os nomes locais dados pelos nativos. Em 1 de novembro (Dia de
Todos os Santos), chegaram à Baía de Todos os Santos, em 21 de dezembro
(dia de São Tomé) ao Cabo de São Tomé, em 1 de janeiro de 1502 à Baía da
Guanabara (por isso batizada de "Rio de Janeiro") e no dia 6 de janeiro
(Dia de Reis) à angra (baía) batizada como Angra dos Reis. Outros
lugares descobertos foram a foz do rio São Francisco e o Cabo Frio,
entre vários.
As três naus que chegaram à Guanabara eram comandadas por Gonçalo
Coelho, e nela vinha Vespúcio. Tomando a estreita entrada da barra pela
foz de um rio, chamaram-na Rio de Janeiro, nome que se estendeu à cidade
de São Sebastião que ali se ergueria mais tarde.
Em 1503 houve nova expedição, desta vez comandada (sem controvérsias)
por Gonçalo Coelho, sem ser estabelecido qualquer assentamento ou
feitoria. Foi organizada em função um contrato do rei com um grupo de
comerciantes de Lisboa para extrair o pau-brasil. Trazia novamente
Vespúcio e seis navios. Partiu em maio de Lisboa, esteve em agosto na
ilha de Fernando de Noronha e ali afundou a nau capitânia,
dispersando-se a armada. Vespúcio pode ter ido para a Bahia, passado
seis meses em Cabo Frio, onde fez entrada de 40 léguas terra adentro.
Ali teria deixado 24 homens com mantimentos para seis meses. Coelho, ao
que parece, esteve recolhido na região onde se fundaria depois a cidade
do Rio de Janeiro, possivelmente durante dois ou três anos.
Nessa ocasião, Vespúcio, a serviço de Portugal, retornou ao maior porto
natural da costa brasileira, a Baía de Todos os Santos. Durante as três
primeiras décadas, o litoral baiano, com suas inúmeras enseadas, serviu
fundamentalmente como apoio à rota da Índia, cujo comércio de produtos
de luxo – seda, tapetes, porcelana e especiarias – era mais vantajoso
que os produtos oferecidos pela nova colônia. Nos pequenos e grandes
portos naturais baianos, em especial no de Todos os Santos, as frotas se
abasteciam de água e de lenha e aproveitavam para fazer pequenos
reparos.
No Rio de Janeiro, alguns navios aportaram no local que os índios
chamavam de Uruçu-Mirim, a atual praia do Flamengo. Junto à foz do rio
Carioca (outrora abundante fonte de água doce) foram erguidas uma casa
de pedra e um arraial, deixando-se no local degredados e galinhas. A
construção inspirou o nome que os índios deram ao local (cari-oca, "casa
dos brancos"), que passaria a ser o gentílico da cidade do Rio. O
arraial, no entanto, foi logo destruído. Outras esquadras passariam pela
Guanabara: a de Cristóvão Jacques, em 1516; a de Fernão de Magalhães
(que chamou o local de Baía de Santa Luzia), em 1519, na primeira
circunavegação do mundo; outra vez a de Jacques, em 1526, e a de Martim
Afonso de Sousa, em 1531.
Outras expedições ao litoral brasileiro podem ter ocorrido, já que desde
1504 são assinaladas atividades de corsários. Holanda, em Raízes do
Brasil, cita o capitão francês Paulmier de Gonneville, de Honfleur, que
permaneceu seis meses no litoral de Santa Catarina. A atividade de
navegadores não-portugueses se inspirava doutrina da liberdade dos
mares, expressada por Hugo Grotius em Mare liberum, base da reação
européia contra Espanha e Portugal, gerando pirataria alargada pelos
mares do planeta.
Parte 3