Hoje, de
acordo com a polícia federal, apenas 2,7% de todos os imigrantes que vêm
legalmente para o Brasil são americanos. Esses imigrantes procuram o
Brasil há 135 anos, inicialmente em busca de terras férteis e baratas para
cultivar. O número oficial de norte-americanos hoje no Brasil é de 22,3
mil pessoas, que chegam ao país para oferecer sua mão-de-obra
especializada para multinacionais, universidades e instituições de
pesquisa.
Com o fim
da Guerra de Secessão nos Estados Unidos, em 1865, os estados do sul
ficaram arrasados pela perda de terras, escravos e pela humilhação da
derrota para os inimigos Yankees (dos estados do norte) que
defendiam incentivos às indústrias e o fim da escravidão. |
Comandantes sulistas da Guerra de Secessão. |
A
insatisfação dos sulistas veio de encontro à política brasileira de
incentivo à imigração como forma de substituir a mão-de-obra - mais
escassa devido à Lei de 1850 que proibia o tráfico de escravos- e investir
no crescimento da agricultura e do país. Segundo a historiadora Alessandra
Zorzetto, pesquisadora do Centro de estudos de Migrações Internacionais
(CEMI), o governo brasileiro questionava qual seria o perfil racial do
Brasil nos próximos 50 anos.
Dentro da perspectiva racista da época, havia
a preocupação de determinados setores do governo em promover o
branqueamento da população brasileira. Os trabalhadores brancos eram tidos
como mais aptos ao trabalho do que os negros e buscava-se então trazê-los
- principalmente agricultures - vindos da Europa e dos Estados Unidos.
Assim, o Brasil tratou de abrir um escritório em Nova Iorque para recrutar
imigrantes.
O governo imperial brasileiro oferecia terras baratas e sob
forma de hipoteca, podendo ser pagas em até três parcelas bianuais. Essas
terras terras devolutas, pertencentes ao estado, que muitas vezes não eram
cultivadas ou estavam em áreas encharcadas.
Além disso, o governo oferecia
instrumentos agrícolas, transporte gratuito do Rio de Janeiro até a
colônia e mais 30 dólares mensais durante seis meses para cada adulto. Nos
jornais americanos da época divulgava-se que o Brasil era um país de 9
milhões de habitantes, com imensidão de terras boas para o plantio,
escravos ensinados e com um partido majoritário "Liberal", com idéias
muito semelhantes às dos sulistas.
Os
imigrantes eram pessoas que possuíam riquezas antes da guerra ou cidadãos
com pouco dinheiro mas que estavam dispostos a empregá-lo na agricultura.
"Diferentemente do que se imaginava, a maioria deles era formada por
pequenos proprietários", afirma Alessandra Zorzetto, que em sua tese de
mestrado estudou a compra e venda de propriedades feita por imigrantes
americanos, de 1865 à 1900, na região de Santa Bárbara D'Oeste, Americana,
Campinas e Piracicaba (cidades do interior de São Paulo).
Até 1867,
cerca de 10 mil sulistas passaram a embarcaram nos portos de New Orleans,
Charleston, Boston, Nova Iorque e outros, com destino a inúmeros países.
Destes, 2.700 seguiram para o Brasil (Tabela.1). Eles chegavam ao porto do
Rio de Janeiro, depois de uma viagem que durava de 30 à 60 dias e, muitas
vezes sem destino certo, ficavam hospedados na Casa do Imigrante.
Número de
americanos em janeiro de 1867
Paraná |
200 |
São Paulo |
800 |
Rio de
Janeiro |
200 |
Minas
|
100 |
Espírito
Santo |
400 |
Bahia e
Pernambuco |
170 |
Pará |
200 |
Total |
2.070 |
Fonte:
"Soldado descansa! Uma epopéia norte americana sob os céus do
Brasil" de Judith Mac Knight Jones
Esses
estrangeiros se estabeleceram em várias regiões do país, mas a maioria se
encaminhou para o interior do Estado de São Paulo, que contava com
estradas de ferro ligadas ao porto de Santos o que facilitava o escoamento
da produção.
De todas as regiões que acolheram americanos, Santa Bárbara
D'Oeste, cidade a 150 km de São Paulo, foi a que mais se desenvolveu. Os
primeiros americanos a chegar lá foram o Coronel William Hutchiinson
Norris, ex-combatente da Guerra Civil Americana e ex-senador do estado do
Alabama, e seu filho, que passaram a ministrar cursos sobre técnicas de
cultivo de algodão aos fazendeiros locais. Uma vez estabelecidos,
receberam o restante da família e outros conterrâneos.
Segundo
afirma a socióloga Teresa Sales no artigo "O trabalhador brasileiro no
contexto das migrações internacionais" contido no livro Emigração e
Imigração Internacionais no Brasil Contemporâneo, as migrações não se
dão de forma aleatória, mas se dirigem para certas áreas com as quais seu
lugar de origem tem fortes laços, que constituem redes sociais.
Assim, um
grupo já estabelecido pode ajudar aquele que acabou de chegar. Em Santa
Bárbara D'Oeste, um grupo desses imigrantes se instalou ao redor da
estação ferroviária e acabou dando origem a Villa Americana, que mais
tarde se emanciparia formando o município de Americana, hoje a 5Km deSta.
Bárbara.
"Os
brasileiros foram muito generosos, dando-nos presentes e vendendo à
crédito, auxiliando os mais pobres a fazer a sua primeira safra"
(Pattie Steagall em trecho de carta publicada no livro "Soldado descansa")
O período
de adaptação que se seguiu incluiu mímicas para se comunicarem com os
brasileiros e empregados. Muitas vezes, no entanto, quem aprendia outra
língua eram os últimos. Algumas famílias compraram escravos para ajudar na
lavoura ou na criação dos filhos, embora tenham aberto mão destes em 1888
com a abolição dos escravos. Outros retornaram ao seu país depois de
dificuldades de adaptação.
Muitos
profissionais liberais como professoras, médicos e dentistas também
emigraram dos Estados Unidos, trabalhando no comércio e trazendo
conhecimentos e métodos mais avançados.
Foto a direita: Harriet,
Elizabeth, Pattie e Ema Steagall uma das primeiras famílias
americanas a vir para o Brasil Fonte: Centro de Memória de Santa
Bárbara d'Oeste. |
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A introdução do arado , ao invés
da enxada usada pelos brasileiros, diminuiu o tempo de preparo do solo e
aumentou a produtividade. Nas lavouras de algodão foi adotada a técnica de
rotação de cultura, alternando com o cultivo de milho e cana, para
amenizar o problema de exaustão do solo.
Muitas vezes os americanos
traziam sementes de diversas plantas como forma de trazer um pedaço de sua
nação. Entre alguns exemplos estão as melancias da Geórgia e a noz pecã,
hoje cultivada no sul do Brasil.
Os
americanos, protestantes em sua maioria, não podiam ser enterrados em
cemitérios católicos. Então, passaram a ser sepultados em uma área de
aproximadamente um hectare na fazenda da família Oliver, hoje no Campo, há
15km do centro de Sta. Bárbara. Apesar de não católicos poderem ser
enterrados em cemitérios no Brasil a partir da última década do século
XIX, as famílias americanas ainda preservam o Cemitério do Campo para
enterrar seus descendentes.
Algumas
tradições americanas foram, pouco a pouco, sendo absorvidas pela cultura
local, mas outras foram incorporadas e difundidas pelo país. O famoso
frango frito, a broa de milho, as panquecas, os waffles e as tortas doces
e salgadas vêm da cultura americana. Os edredons de penas ou de algodão
eram confeccionados pelas americanas que se reuniam para costurar e por as
conversas em dia, enquanto seus maridos estavam no campo. Veja tabela 2
abaixo.
A primeira
geração de americanos procurava conservar sua cultura, falando apenas
inglês e casando seus filhos com membros de famílias americanas. A partir
da terceira geração, no entanto, os jovens que foram crescendo, mudavam-se
para as cidades grandes em busca de continuar seus estudos. Alguns se
aventuraram pelo nordeste e outros casaram-se com brasileiros ou outros
imigrantes.
Trimestralmente acontece em Santa Bárbara D'Oeste (SP) a Reunião da
Fraternidade Descendência Americana e, anualmente, acontece a festa dos
descendêntes no Cemitério do Campo, onde descendentes, do país inteiro,
vestidos com roupas típicas do sul dos E.U.A, se reunem para preservar
suas tradições. A próxima reunião será no dia 08 de abril de 2001, para
maiores informações consulte o Site da Fraternidade.
Foto a direita:
Passaporte de imigrante norte-americano. Fonte: Centro de Memória de
Santa Bárbara d'Oeste. |
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Desde de
1988 foi organizado pela Prefeitura de Sta. Bárbara D'Oeste o Museu do
Imigrante que possui uma seção sobre os imigrantes americanos, com
exposição permanente de objetos, documentos e fotos sedidas pela
Fraternidade. O Centro de Memória desta mesma cidade, arquiva fotos e
documentos que podem ser consultados se segunda a sexta das 8 às 12h e das
13h30 às 17h.
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