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Historia de Amparo de São Francisco SE

 

Amparo recebeu o nome num casamento.
Terra de Maria Feliciana, a mulher mais alta do país, também foi invadida por bando de Lampião.

Ainda no Império, nas terras que primitivamente circundavam a povoação de Urubu de Baixo, hoje Propriá, existiam inúmeras propriedades agrícolas, sendo a de Campinhos uma das mais importantes. O proprietário era o capitão Antônio Rodrigues da Costa Dória, um dos membros eleitos para compor a primeira Comarca de Propriá.

Por volta de 1855, tendo se desentendido com sua mãe, depois da morte do seu pai, Francisco José da Cruz - que era dono do Engenho Feiticeira, nas proximidades de Jaboatão de Sergipe, hoje Japoatã -, João da Cruz Freire recebeu da mãe o quinhão, em dinheiro, que lhe cabia por herança, com o qual adquiriu parte da fazenda Campinhos. Ele construiu a primeira casa de morada, justamente no ponto onde melhor se avistava a torre da igreja de São Brás, localidade fronteiriça do Estado de Alagoas de onde se via o Rio São Francisco.

Com o passar do tempo, foram chegando algumas famílias, que decidiram construir suas casas às margens do Riacho Jaguaribe, entre a Lagoa Salgada e o local onde hoje funciona a Fazenda Jaguaribe.

SURGE O NOME DA CIDADE

Depois de oito anos dedicados à lavra da terra e ao criatório de gado, João da Cruz Freire casou-se com dona Francisca Senhorinha, descendente de uma família portuguesa que, por motivos políticos, emigrou para vizinhanças de sua propriedade. Grande parte dos seus descendentes habitou por várias gerações as terras de Amparo do São Francisco, dedicando-se aos mesmos afazeres dos antepassados.

Foi justamente no dia do casamento de João da Cruz Freire que, sendo perguntado pelo nome da sua propriedade, respondeu que até aquele instante não tinha pensado no nome, mas daquele momento em diante ela se chamaria Amparo, acrescentando que, como havia previsto, fizera daquelas terras o seu “amparo”. Nesse mesmo dia, João da Cruz Freire foi agraciado com a patente de Capitão da Guarda Nacional.

Posteriormente, construiu uma igreja sob a invocação de Nossa Senhora do Amparo e fez a doação da área de terras necessárias à constituição do encapelado (vide box). Nasceu, assim, a povoação de Amparo, encravada nas terras pertencentes ao município de Propriá.

Várias famílias continuaram chegando a Amparo no final do século 19. Nesse período, as pessoas mais proeminentes da comunidade costumavam assistir às missas de uma tribuna, situada sobre o coro da igreja. Numa dessas ocasiões, João da Cruz Freire sentiu-se mal e foi levado pelos populares até sua residência, onde logo depois morreu.

Após sua morte, seus filhos, com aprovação dos moradores, resolveram sepultá-lo na mesma igreja que ele mandara construir.

:: Antonio Freire de Souza: bisneto do fundador ::

 

EMANCIPAÇÃO

Em 1937, Amparo passou a fazer parte do município de Canhoba, criado pelo decreto-lei estadual nº 17, de 23 de dezembro, situação em que permaneceu durante quase dez anos. Mas em 6 de julho de 1947, voltou à jurisdição de Propriá em virtude do estabelecido no artigo 9º do Ato das Disposições Constitucionais de Sergipe.

Em 1953, o povoado havia atingido as condições mínimas exigidas para ser emancipado, pelo que se empenhou vivamente o senhor Epaminondas Freire, neto de João da Cruz Freire, político militante na povoação. O deputado estadual Martins Dias Guimarães incluiu Amparo na emenda coletiva, transformando o povoado em cidade através da Lei nº 252-A, de 25 de novembro de 1953, com a denominação de Amparo de São Francisco, desmembrado de Propriá.

Mas as coisas não transcorreram tão facilmente. Eleito por Propriá, Martins Dias Guimarães, que tinha em Amparo seu colégio eleitoral, viu-se num dilema. À medida em que o povoado crescia, Epaminondas Freire, que encabeçava a luta em prol da emancipação política do povoado, pressionava o deputado para que ele tomasse uma posição a favor da emancipação.

Inicialmente o deputado se manifestava contra a separação, porque contrariava os interesses de Propriá. No decorrer do tempo, porém, Martins Guimarães resolveu compartilhar com Epaminondas Freire a luta pela emancipação. O município é instalado solenemente pelo Juiz de Direito da Comarca de Propriá em 6 de fevereiro de 1955, ato em que tomam posse cinco membros da Câmara de Vereadores e o prefeito Leonel Vieira da Silva, eleito em 3 de outubro de 1954.

Pela Lei nº 554, de 6 de fevereiro de 1954, que fixa a nova Divisão Administrativa e Judiciária do Estado para o quinquênio 1954-1958, Amparo do São Francisco se compõe de um único distrito, sede municipal e é termo judiciário.

 

A capelinha e a primeira imagem

Um dos primeiros moradores de Amparo, ao andar pela mata virgem existente na região, deparou-se com uma capelinha coberta de ramagens de melão. O homem, curioso, passou a retirar a ramagem, quando viu dentro da capelinha a imagem de uma santa. Surpreendido, o jovem partiu correndo e foi dar a notícia às pessoas que residiam no arraial, as quais partiram com ele em busca da capelinha.

Quando lá chegaram, constataram toda a verdade. Entre as pessoas que foram ver a capela de perto estava João da Cruz Freire que, após a descoberta, anunciou a doação de uma área de terra de sua propriedade, para que todos pudessem construir livremente suas casas.

Além disso, em decorrência do entusiasmo da descoberta, João da Cruz Freire, de imediato, mandou construir uma igreja no mesmo local da capelinha, cuja construção de pedra e cal resiste até hoje. Em frente ao prédio, a pouco mais de dez metros, os cidadãos levantaram um cruzeiro de madeira.

Na inauguração da igreja, João da Cruz Freire resolveu batizar a imagem com o nome de Nossa Senhora do Amparo, por ter ela sido encontrada dentro de sua fazenda denominada Amparo. A referida igreja permanece até hoje como matriz de Nossa Senhora do Amparo.

Foto 7: Igreja Nossa Senhora do Amparo: mesmo local da capelinha

 

Bando de Lampião promove rapto e seqüestro em Amparo

Dez componentes do bando de Lampião invadiram Amparo no ano de 1937. Segundo os moradores mais idosos que lembram da história, os bandidos - oito homens e duas mulheres - chegaram à cidade de surpresa, durante a madrugada. O povo entrou em pânico, muita gente fugiu da cidade e se meteu nos arrozais que ficavam na beira do rio.

Conforme relatam, entre os componentes do grupo que tomou a cidade estavam Volta Seca, Boca Preta, Canário e Pancada. “Os cangaceiros chegaram aqui empurrando as pessoas e exigindo dinheiro de quem tinha e de quem não tinha”, relembra Esmeralda Oliveira.

Depois de informar-se sobre as pessoas importantes da cidade, os cangaceiros foram à propriedade de Franklin Freire, filho de João da Cruz Freire. “Eles o pressionaram para que ele desse dinheiro, e ele disse que não tinha. Então mandaram um portador para Jundiay, a fazenda do senhor Ercílio Brito, que é hoje de João Alves Filho, para pegar dinheiro. Como os bandidos já estavam de saída, disseram que o velho iria com eles para Aquidabã. Eles afirmaram que dariam o prazo até as 18 horas daquele dia. Caso o dinheiro não chegasse, ele morreria”, relembra Antonio Freire de Souza, que na época tinha 7 anos.

O sobrinho de Franklin, Adão Freire, vendo a agonia do tio, disse que iria no seu lugar. Em seguida, o portador foi para a fazenda Jundiay. Além do dinheiro, os cangaceiros também queriam levar embora uma mulher casada. “Era Sinhá Teixeira, que era muito bonita. Mas o pessoal conseguiu iludir os bandidos com conversa, enquanto ela fugia pelos fundos da casa. Um morador, que estava esperando no quintal, ajudou a atravessar o rio. Só assim eles não a raptaram”, conta Antonio Freire.

Os bandidos resolveram ir embora. Mas antes de o dinheiro chegar e o prazo acabar, a polícia, sabendo que os cangaceiros estavam naquela área, encontrou-se com eles, já no povoado Barra Salgada, município de Aquidabã.

Houve tiroteio e um soldado foi morto. Adão Freire, que estava com os cangaceiros, teve que se esconder. “Ele entrou num paiol de algodão, pois a polícia pensava que ele também era bandido. O tiro zunia e ele gritava ‘eu não sou bandido, eu não sou bandido’. Se saísse morria. Uma hora mandaram ele sair, foi então que um cabo o reconheceu, por isso ele não morreu”, explica Antonio Freire.

 

Homenagem a Amparo do São Francisco

Amparo do São Francisco ainda não tem hino, mas o bisneto de João da Cruz Freire, Antonio Freire de Souza, que vive no município até hoje e preserva detalhes da história da cidade na memória, escreveu essa letra e espera que seja adotada como o hino oficial do município:

O teu início se deu na monarquia
Quando implantou-se a pedra fundamental
Numa fazenda, aquela onde viria
Em tão pouco tempo, transforma-se em um arraial
És tu Amparo, estrela matutina
Que nos dá força, esperança e amor
Embora seja, no teu corpo pequenina,
Mas a nossa luta é defendê-la com fervor
Em terras férteis, que plantando tudo dá
Demandava o arroz e o algodão
A batata e o inhame se plantou,
Também dá cana, dá o milho e o feijão
O município é abençoado por Deus
O esplendor, que transborda essa beleza
Que nos conforta, amparando os filhos teus
E nos aquece com toda essa natureza
O São Francisco, esse rio caudaloso
Com sua nascente num Estado do Sudeste
Que vem correndo, tão bonito e tão formoso
Trazendo riqueza para os Estados do Nordeste
Temos comércio, pecuária e agricultura
Temos prainha, esporte e o lazer
Temos escola, que é o que nos assegura
Para o futuro, que devemos aprender
Terra adorada, pequenina e hospitaleira
Cheia de esplendor, de um povo varonil
Que por orgulho, dessa terra altaneira
E tem como Sergipe, um pedaço do Brasil
És tu Amparo, estrela matutina
Que nos dá força, esperança e amor
Embora seja em seu porte pequenina
Mas é nossa luta defendê-la com fervor
Em tuas matas encontrou-se a capelinha
Que deu origem a sua povoação
Dentro da mesma, encontrou-se uma santinha
A quem devemos muito amor e devoção
Foi em Amparo que se achou essa santinha
Em nossa terra, foi a imagem primeira
Nós a adoramos como mãe, como rainha
Que será para sempre, da cidade a padroeira
O nosso Amparo foi emancipado,
Por Epaminondas e Martinho, que o fez
Passaram a cidade, como fosse um povoado,
Em 25 de novembro de 1953
E a sua história, para quem nos entende
A qual devemos conservá-la com amor
Fazendo jus ao senhor João da Cruz Freire
Esse pioneiro, o seu grande fundador

 

Alguns filhos ilustres do município

  • Maria Feliciana dos Santos - artista circense, considerada a mulher mais alta do país, com 2,30 metros.
  • Leonel Vieira da Silva - primeiro prefeito do município
  • Arnaldo Cardoso de Oliveira - economista
  • Gildo dos Santos - advogado no Rio de Janeiro

 

Texto: Valnísia Mangueira
Fotos: Edson Araújo
Fontes: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros e pesquisa de Antonio Freire de Souza.