O município, que já foi revolucionário, surgiu como vila logo depois de São Cristóvão
Se existisse um lugar onde a história de
Sergipe pudesse ser toda contada, com certeza seria o município de Santo
Amaro das Brotas, distante de Aracaju 37 quilômetros. Naquele local, pouco
conhecido dos sergipanos, respira-se pura historia, não obstante os
sucessivos administradores públicos tentarem destruí-la. Só para se ter
uma idéia, Santo Amaro completou 303 anos desde que surgiu como vila,
sendo assim, sem dúvida alguma, um dos primeiros povoados de Sergipe D’el
Rei.
Muito antes de Cristóvão de Barros, em
1534 o rei dom João III determinou que Francisco Pereira Coutinho podia
“tomar conta” das terras que se estendiam da baía de Todos os Santos até o
Rio São Francisco. Mas a resistência indígena foi maior e Coutinho não
prosperou. Seu filho Manoel tentou dar continuidade ao “tomar posse”, mas
também foi vencido pelos ‘gentios’ (nativos). Tentando avançar sobre o
território, um ponto belo e estratégico chamou a atenção dos exploradores:
uma colina ao lado esquerdo do Rio Sergipe, bem em frente da confluência
deste com o Rio Cotinguiba. Ali nasceu Santo Amaro.
Em virtude do fracasso dos Coutinho,
Cristóvão de Barros parte com uma grande força para se apossar das terras
de Sergipe. E consegue. Aqui, implanta a Vila de São Cristóvão, e aos seus
parentes e soldados mais fiéis repassa parte das terras invadidas. Um dos
‘camaradas’ a receber o presente foi o português Amaro Aires da Rocha, que
se instalou naquela colina ao lado esquerdo do Rio Sergipe. Depois de sua
morte, o seu descendente Antônio Martins de Azevedo tomou conta da fazenda
que recebia o nome de Aires da Rocha.
POVOAÇÃO E VILA
Martins de Azevedo já tinha no Porto da Cotinguiba,
depois Porto das Redes, um engenho de açúcar. Na Fazenda Aires da Rocha,
Martins de Azevedo, como sempre após saque e o massacre dos verdadeiros
donos, os índios levantou uma capela da seita católica que sempre ajudava
enganando os índios, segundo os mais velhos, às grandes e verdejante
‘grotas’ existente naquela região foram todas devastadas, atualmente virou
deserto e terra sem valor. Em todo o país existe uma imensidade de nomes
de santos inventados pela seita católica, devido seu trabalho "macabro",
sempre surge uma igreja no centro de todas as cidades brasileira, muitas
cravejadas de ouro, ouro maldito manchado de sangue de inocentes.
Em 1697, o governador-geral do Brasil
ordenou ao ouvidor-geral de Sergipe, Diogo Pacheco da Carvalho, a criar
vilas nas povoações de Itabaiana e Lagarto, e outra no Porto da Cotinguiba.
Naquele mesmo ano, a Câmara de São Cristóvão instala a sede da Vila de
Santo Amaro, em homenagem ao fundador Amaro Aires da Rocha, no Porto da
Cotinguiba. Mas Martins de Azevedo não queria a vila no porto. Além de
prejudicar seu engenho, a localidade sofria com as inundações.
Então Martins de Azevedo ofereceu à
Câmara 200 braças de terra da Fazenda Aires da Rocha para implantar a sede
da vila. As autoridades da província não aceitaram e se arrastou uma
disputa judicial que foi decidida em favor de Martins de Azevedo.
Anotações históricas dão conta de que em 1701 Santo Amaro já possuía mais
de 2,3 mil pessoas.
FREGUESIA E DESENVOLVIMENTO
A matriz da cidade, com a invocação agora
de Santo Amaro das Brotas, foi erguida em 1728. A freguesia foi criada por
dom Frei Antônio Correia Freire, em março de 1761. Mas em 1721, o coronel
Pedro Barbosa Leal e sua mulher, Mariana de Espinosa, doaram aos frades
carmelitas uma parte de terras para a construção de um convento. Hoje,
essa obra não existe mais. Contam ainda historiadores que em 1761 o
capitão Sebastião Gaspar de Almeida Bôtto arrematou os ofícios de tabelião
e escrivão de órfãos, Câmara e almotaçaria da vila.
Santo Amaro progrediu tanto que chegou a
ter a maior produção de açúcar da província. Enquanto do Porto da
Cotinguiba eram exportadas 20 mil caixas de açúcar por ano, nas barras dos
rios Real, São Francisco e Vaza-Barris alcançavam juntas 10 mil. É de
Santo Amaro que nascem Maruim, Rosário do Catete e outras cidades
vizinhas.
Um dos grandes responsáveis pelo
desenvolvimento de Santo Amaro é Antônio José da Silva Travassos, um dos
maiores políticos e jornalistas que Sergipe já teve. Em 1858 ele editou em
Santo Amaro o jornal ‘Conciliador’. Travassos tinha grande influência na
província. Antônio Travassos nasceu em julho de 1804, foi advogado e
político. Publicou também vários trabalhos sobre a história de Sergipe.
POVO INSURRETO
Naquele pequeno município foi dado o
primeiro grito de “independência do Brasil” em 1822. Assim que os
santamarenses tomaram conhecimento da decisão do príncipe, foram
mobilizados 2 mil homens de Santo Amaro para resistir à possível luta
contra os portugueses. Com este fato o povo de Santo Amaro ficou conhecido
como “insurreto”, rebelde, resistente. Isso porque em 1817, na chamada
Revolução de Pernambuco, partiram de Sergipe para lá uma milícia de Santo
Amaro e mais 600 homens.
Em outubro de 1828, a sede da Vila de
Santo Amaro é transferida para onde é hoje Maruim. A Câmara e o povo
santamarense reagiu e resistiu. O grande comandante da resistência era
Travassos, que travou uma luta contra Bento de Melo Pereira, comandante
das armas e pessoa ligada diretamente a Bôtto. Mas Travassos foi vencedor.
No entanto, a vingança viria logo. Em fevereiro de 1835, a província
chegou a extinguir a Vila de Santo Amaro, deixando-a dependente de Maruim.
Travassos entra em cena de novo e pede ao
presidente da província, Manoel da Silva Lisboa, para reverter essa
posição. Mas não foi atendido. Uma grande força foi formada em Santo Amaro
e o exército comandado por Travassos invadiu Maruim em 1835. Lá, os
santamarenses tomaram os cartórios e os prédios públicos. Os serventuários
da Justiça foram obrigados a retornar à antiga sede. Este episódio ficou
conhecido como “Estouro Sangrento”. Diante desse ato do povo de Santo
Amaro, o governador Manoel Lisboa reuniu às pressas os membros da
Assembléia Legislativa e restituiu Santo Amaro como vila independente.
MUDANÇA DE NOME
Só em 15 de dezembro de 1938, Santo Amaro
das Brotas acabou sendo transformada em cidade. Mas por causa de um
Decreto Federal, o nome da cidade mudou para Juruama. Os santamarenses não
aceitaram tal denominação e o coronel Jacintho Dias Ribeiro, depois de
inúmeros protestos, conseguiu devolver o antigo nome àquele município. Sua
mulher, Diva Ribeiro, foi uma grande assistente social do município.
Um dos prefeitos que marcaram a historia
de Santo Amaro foi Nelson Ferreira Lima, que abriu ruas, construiu
prédios, inaugurou bairros. Santo Amaro das Brotas, com seus defeitos e
qualidades, é fruto de patrióticas lutas dos santamarenses. Com sangue,
eles gravaram a cidade na história.
Revolução de Santo
Amaro
Era 1836. Tinha Santo Amaro, naquela
época, dois chefes políticos poderosos e aguerridos: Sebastião Bôtto, o
‘rapina’ e Antônio Travassos, o ‘camondongo’, oposicionista, rábula, muito
inteligente e respeitado.
Ia proceder-se eleição dos primeiros pilantras deputado
provincial. Eram candidatos Almeida Bôtto e o médico Manoel Joaquim
Fernandes de Barros, ligado a Travassos. Este último teve a maioria e
Bôtto foi fragorosamente derrotado. Ele não se conformou com a derrota e
conseguiu, com malandragem, falsificar a ata da eleição, despejando na
Mesa 3.621 votos, onde só existiriam 50 votantes.
Votaram todos os defuntos e os ausentes
daquele município. Começou daí a insurreição para liquidar Santo Amaro das
Brotas e desmoralizar o popularismo de Travassos.
Outra guerra era deflagrada, agora contra
Maruim e Rosário do Catete. Os partidários de Travassos prometiam
resistir. Eles tentaram fazer com que o governador anulasse a eleição, o
que não aconteceu. Bôtto montou um pequeno exército para enfrentar os ‘camondongos’.
As tropas dos ‘rapinas’, cerca de 600
homens, invadiram Santo Amaro, mas encontram uma cidade quase deserta. A
maioria dos habitantes tinha aderido a Travassos e fugiu quando soube da
chegada dos ‘rapinas’.
Dois homens que estavam doentes, leais a
Travassos, ficaram e foram arrastados e executados em praça pública. As
casas, igrejas e prédios foram saqueados. Seis dias depois, Bôtto se
retirou da cidade deixando 50 capangas na vila sob o comando de João
Bolacha. Este, embriagado, foi até a matriz e, de posse de uma espingarda,
atirou quebrando a mão direita do santo. Dias depois, alguns santamarenses
se vingaram matando João Bolacha. No final de 1837, o Governo Imperial
finalmente anulou a eleição, mas as desavenças continuaram por muitos
anos.
Memória viva
Clóvis Bomfim (*)
O historiador e poeta Carlos Araújo
Guimarães é natural da lendária Vila de Santo Amaro das Brotas, nascido a
2 de agosto de 1914, num período violentamente conturbado pela explosão da
1ª Guerra Mundial. Ele era filho do ex-intendente municipal Ascendino
Araújo e dona Etelvina América Guimarães, já falecidos.
Na vida pública, protagonizou papéis
importantes, compreendidos desde secretário-tesoureiro no mandato do então
interventor Alon de Matos Teles, em 1936, a agente de estatísticas,
alternando-se nas ocupações citadas e passando pelos Governos de Júlio
José de Azevedo, Agenor Martins Fontes, até fins de 1974 na gestão de
Nelson Ferreira Lima.
Na atividade jornalística teve seus
artigos publicados nas páginas dos mais conceituados órgãos de comunicação
deste Estado e de outros periódicos do país. Influenciado pelo pai, Carlos
Araújo Guimarães, se dedicaria efetivamente a pesquisar e a escrever
relatos sobre a história de sua terra-berço, tarefa que abraçou com grande
fôlego e tem assinalado uma vasta folha de serviços prestados a esta
comunidade, desde 1932.
Cronista de admirável estilo, escreveu
verdadeiras obras de cunho literário que espera até os dias atuais por uma
publicação condigna. Sua experiência, coroada pela lucidez dos 87 anos de
vida, é motivo de orgulho para sua modesta legião de admiradores.
Texto: Cristian Góes
Fotos e reproduções: Manoel Ferreira
Fonte: ‘Dados históricos sobre Santo Amaro das Brotas’, de João Sales de
Campos; Enciclopédia dos Municípios Brasileiros; e colaboração de Clóvis
Bomfim, Carlos Araújo Guimarães e Maria Lúcia Marques
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