Economia - estudo liga origem do
sobrenome a tamanho do salário no Brasil
Silva, Santos,
Oliveira, Souza e Pereira são os sobrenomes mais
comuns de 46,8 milhões de trabalhadores do setor
privado, com idade entre 23 a 60 anos, no
Brasil.
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Estudo indica que, dependendo da
ancestralidade, não apenas os salários
como os anos de estudo e notas em provas
de matemática podem variar |
Juntos, respondem por
cerca de 45% dos sobrenomes que constavam, em
2013, na Relação Anual de Informações Sociais
(Rais), uma base de dados socioeconômicos do
Ministério do Trabalho.
Mas, se comparados aos
de outras origens - em especial japonesa e
germânica -, as chances de os brasileiros que
carregam esses cinco sobrenomes tão comuns
ganharem salários menores são grandes.
Uma pessoa com sobrenome de ancestralidade
japonesa, por exemplo, recebe, em média, um
salário 16,8% maior que um pessoa branca com
sobrenome ibérico. Os germânicos, por sua vez,
recebem 8% mais que os indivíduos bancos com
sobrenomes portugueses e espanhóis.
Pardos, negros e índios, refletindo a já
conhecida desigualdade que persiste no país,
ganham menos.
Quando o critério são
apenas os 100 maiores salários registrados na
Rais, porém, os alemães se destacam - e os
japoneses vão para o fim desse seleto ranking.
Nessa lista, segundo a base do Ministério do
Trabalho, 43 carregam sobrenomes de
ancestralidade alemã, 22 italiana e 17 ibérica
(veja quadro).
Esses dados fazem parte
de uma série de estudos do economista Leonardo
Monasterio, do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), que tem se dedicado a
pesquisar sobrenomes, ancestralidade,
diversidade cultural e mobilidade social no
Brasil.
BBC Gráfico com ancestralidade dos 100
sobrenomes com maiores salários no banco
de dados do Ministério do Trabalho
|
Automatização de padrões
Ele
conseguiu identificar a origem de sobrenomes de
brasileiros usando uma técnica chamada de
machine learning - método de análise de dados
que automatiza a busca e a identificação de
padrões.
Monasterio é um dos primeiros a
aplicar essa metodologia para analisar a
ancestralidade de nomes de brasileiros. Levou um
ano pesquisando a origem dos sobrenomes,
buscando padrões linguísticos e criando
algorítmicos para automatizar a identificação -
fase da pesquisa conduzida na Universidade da
Califórnia (UCLA), nos EUA.
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'Machine Learning' é um subcampo da
inteligência artificial e foi usada pelo
pesquisador para mapear diferentes
categorias de sobrenomes
|
Primeiro, ele rastreou 71,7 mil
sobrenomes distintos, usando bases de dados
nacionais e estrangeiros, e os classificou em
cinco origens diferentes: italiana (26.191),
alemã (22.502), ibérica (10.142), europeia do
leste (7.581) e japonesa (5.375).
Depois, cruzou esses dados com o banco da Rais
de 2013, que listava dados de mais de 46 milhões
de trabalhadores.
Além de descobrir os
cinco sobrenomes mais comuns, ele também
constatou que 88,1% dos trabalhadores
brasileiros tinham um último nome de origem
ibérica - Monasterio utilizou apenas o último
sobrenome de cada indivíduo para fazer suas
análises.
BBC Distribuição
de sobrenomes por ancestralidade |
"Foi preciso criar um padrão
linguístico, um jeito de classificar. Claro que
há imperfeições, mas a automatização vai
aprimorando com o tempo", explica o pesquisador
que, a princípio, estava interessado
principalmente em criar um mecanismo de
identificação de sobrenomes dos brasileiros.
No entanto, acabou analisando também
variações nos dados socioeconômicos de quem
carrega sobrenomes de diferentes origens.
Com o tempo, sua pesquisa foi ganhando mais
corpo e ele foi inserindo novas variáveis - como
sobrenomes de origem sírio-libanesa, raça e
performance em exames de matemática no ensino
médio.
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Pesquisador ressalta que outras
variáveis impactam o tamanho dos
salários |
Quando analisada toda a base de
dados (e não apenas os 100 salários mais altos),
as associações positivas identificadas pelo
pesquisador revelam, por exemplo, que as pessoas
com sobrenomes de ancestralidade japonesa,
seguidas pelas com nomes de origem germânica,
sírio-libanesa, lestes europeia e italiana,
nessa ordem, têm, em média, maiores salários que
os de brancos ibéricos.
Pardos, negros e
indígenas ganham menos: -3,3%, -5,5% e -10,3%,
respectivamente.
Relação causal
Mas Monsterio admite que seus achados levantam
muitas perguntas. Aos poucos, com mais pesquisa,
ele as tenta responder testando novas hipóteses.
"Apesar da associação positiva, que já é
um dado relevante e importante, a causalidade
não é clara. Talvez não seja apenas o sobrenome,
sozinho, que impacte no salário", observa o
pesquisador.
Monasterio diz que os ganhos
também podem estar associados a outras variáveis
como, por exemplo, a cor da pele, o gênero e a
qualidade da educação que a pessoa teve.
BBC Variação da
remuneração da remuneração por
ancestralidade se comparada a de um
profissional com sobrenome de
ancestralidade branco ibérco
|
"Anos de estudo não indicam o tipo de
formação", afirma, ponderando que, por exemplo,
europeus e japoneses que vieram ao Brasil tinham
em média mais anos de estudo que os brasileiros
herdeiros dos portugueses e espanhóis.
Isso, segundo o pesquisador, pode ter
representado uma certa vantagem familiar que
impactou as gerações seguintes.
A
distribuição geográfica dos nomes pode
influenciar também no tamanho dos salários. A
região centro-sul do Brasil, onde salários e
nível de escolaridade tendem a ser mais altos,
concentra a maioria dos sobrenomes não ibéricos.
Já os nomes de origem portuguesa e
espanhola aparecem mais concentrados no Nordeste
e no Norte, onde renda e anos de estudo são
naturalmente menores.
São Paulo, onde, em
média, se paga os maiores salários do país, tem
uma grande concentração de descendentes de
japoneses.
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Pessoas com sobrenome de origem
japonesa, em média, recebem salários
mais altos, têm mais anos de estudo e
tiram melhores notas em testes de
matemática |
Além de serem os que ganham salários
mais altos, os indivíduos com ancestralidade
japonesa se destacam também por terem mais anos
de estudo - em média 13,6 anos - e por tirarem
melhores notas em provas de matemática,
descobriu Monasterio.
"As evidências são
robustas e estatisticamente significantes",
afirma o pesquisador, emendando que é necessário
"abrir a caixa preta e entender o porquê dessas
diferenças".
Potencial
As
pesquisas de Monasterio têm o potencial de
contribuir para um campo relativamente pouco
explorado no Brasil, em especial porque ele tem
usado tecnologia para identificar a mobilidade
dos imigrantes, em especial os que chegaram
entre a Primeira e a Segunda Guerra, e o impacto
da imigração na economia do país.
A
motivação para se aprofundar no tema veio da
própria história do pesquisador.
"Minha
família veio da Bolívia para o Brasil. Eu já
morei no Rio Grande do Sul. É um assunto que me
interessa e em que há pouca pesquisa no país, se
comparado com estudos sobre mobilidade de
imigrantes europeus nos Estados Unidos",
explica.
(Com conteudo BBC)
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