Na década de 60: os caminhos
eram íngremes, obstáculos de difícil travessia, animais ferozes espreitando
junto às picadas abertas por pioneiros para ligar suas terras ao povoado.
Chegavam caravanas de toda parte, trazendo consigo famílias inteiras, a maioria
procedente do Paraná, São Paulo e Minas. Desembarcavam, abriam uma clareira e
erguiam um rancho, plantavam o essencial à subsistência e iniciavam a derrubada
da mata para o cultivo do milho, auxiliar indispensável na criação de suínos.
Agrimensores embrenhados nas matas com os demais funcionários da Companhia de
Terras descobriram, a cada dia, um novo riacho, aos quais lhes davam nomes;
localidades que até hoje mantém as mesmas designações daquele tempo.
A tarefa era difícil, mas havia alegria no semblante de todos. Trabalho árduo
que sempre culminava com algum tipo de festa, pois estavam eles construindo o
futuro sem saber iam deixando, oralmente, narrativas como foram os primeiros
anos de Tangará da Serra e quais eram os precursores.
Tangará da Serra, como outras cidades da região, viveu alguns ciclos importantes
da economia nacional, e a lavoura cafeeira teve sua importância no seu
desenvolvimento, além do milho, arroz e depois da soja, à qual se proliferou
pela região e acabou se tornando, anos mais tarde parte do mundo que mais produz
esse cereal. Décadas de 70 e 80: época da criação da maioria dos municípios
mato-grossenses e abertura de vastas fazendas que impulsionaram o progresso e a
ocupação definitiva das terra dos Parecis.
Desde o primeiro pioneiro até os acontecimentos mais recentes, Tangará da Serra
preza-se por ter sua trajetória traçada por homens que souberam valorizar sua
terra e sua gente, não esquecendo jamais os valores humanos e sem deixar de
contar sempre com a disposição de seus moradores.
Tanto na vida política como religiosa a cidade teve inúmeras celebridades.
Homens simples tinham censo aguçado de responsabilidade, que ergueram sua
comunidade e levantaram monumentos que hoje a enobrecem.
Além disso, o maior patrimônio tangaraense é seu próprio povo: um legado de
famílias que, ao longo dos anos, desde 1959, quando Joaquim Aderaldo de Souza
iniciou a colonização das terras adquiridas pela SITA, até o último ato, que
continua acontecendo em todo momento. È com homens e muito trabalho que se
constrói uma cidade.
O Município de Tangará da Serra, no exuberante divisor das águas das bacias
Amazônica e do Prata, originou-se em 1959, emergente do antigo povoado surgido
pelo loteamento das glebas Santa Fé, Esmeralda e Juntinho, localizadas no
município de Barra do Bugres.
Os senhores Júlio Martinez, Dr. Fábio Licere e Joaquim Oléa findaram a SITA-
Sociedade Imobiliária Tupã para a agricultura que, atraídos pela excelente
condição de clima e solo fértil, implantaram o loteamento Tangará da Serra.
Antes, porém, o Marechal Cândido Rondon já havia palmilhado a região em 1913,
auxiliado pelos índios Parecis e Nhambiquaras, quando implantou o telégrafo,
estudou a Flora e a Fauna presentes, para fornecer subsídios que seriam
utilizados no futuro. Rondon abriu a rodovia que sobe os chapadões dos Parecis,
cujas marcas ainda estão presentes: a exemplo de sua casa e uma ponte construída
sobre o Rio Sepotuba, no interior do Município de Tangará da Serra, ainda
preservadas.
Depois chegaram os extrativistas, atraídos pela Mata de Poaia: planta com
propriedades medicinais, que cobria as encostas da Chapada dos Parecis; onde os
tributários do Rio Paraguai têm suas nascentes.
Logo após chegaram os madeireiros, devastando a região para ceder lugar aos
colonos que derrubaram o cerrado e se iniciaram na agropecuária, atividade ainda
tão presente no município: base forte da economia tangaraense.
Inspirados pelo canto macio, cheio, vivo e sonoro do pássaro Tangará ( uma das
aves brasileiras mais famosas) foi que os primeiros visitantes da região aliaram
o nome do gracioso pássaro à majestosa Serra de Itapirapuã e batizaram a
localidade como Tangará da Serra.
Em 1878, Pedro Torquato Leite e sua família, vindos de Cuiabá, fixaram-se junto
à barra do Rio Bugres. Ali começou a explorar economicamente uma variedade de
planta por nome poaia, cujas raízes possuem alto valor medicinal.
O lugar era ocupado pela tribo indígena Bororó Umutína, atualmente em extinção.
Como a investigação pelas cercanias foi satisfatória, ergueu o primeiro rancho
e, nas imediações, iniciou o cultivo de lavouras de subsistência. No ano
seguinte, assim como Torquato, instalou-se no local junto com a família e alguns
camaradas poaeiros, outros aventureiros como Nicolau Gomes da Cruz, Major José
Cassiano Corrêa, Capitão Tibúrcio Valeriano de Figueiredo (ex-combatente da
Guerra do Paraguai), além de Manoel de Campos Borges e muitos outros.
A partir de então, seguiram-se is ciclos normais de uma localidade, assim como
acontece em quase toda colonização. As instituições foram surgindo, por volta de 1896, e ainda as
edificações mais apropriadas conforme aumentava o contigente de moradores.
O extrativismo da poaia, borracha e madeira eram a base econômica de Barra do
Bugres até então, atividade que exigia a abertura de picadões pela floresta, que
fez surgir várias estradas pelo interior.
Diz-se que, em 1908, já havia muitos moradores na localidade, todas empenhadas
em iniciar seus próprios negócios, diversificando as atividades econômicas,
mesmo antes do Marechal Cândido Rondon instalar uma linha do telégrafo, a qual
possibilitou comunicação com o resto do país.
Em 20 de novembro de 1926, passava por Barra do Bugres a Coluna Prestes, quando
os moradores resolveram enfrentar os soldados, mas sem armas e adestramento,
sucumbiram.
A exploração da madeira e outras riquezas naturais da região estendia-se até a
Serra de Itapirapuã, que além dos poaeiros, poucos se arriscavam em concentrar
seus afazeres além dela. E assim, Nova Olímpia era localidade derradeira antes
da Serra, mas não prosperava devida a falta de infra-estrutura adequada.
Por ocasião da imigração japonesa ao Brasil, através de um acordo Brasil- Japão,
uma vasta área de terras foi requerida por Kimoto Fugissawa e outros, que
compreendia entre o Rio Sepotuba e a Serra de Itapirapuã ou Bocaiuval, no
município de Barra do Bugres, território esse que consta como a planta inicial
do Município de Tangará da Serra. Tal área era dividida em 25 glebas, cada uma
destinada a uma família japonesa, com exceção de alguns brasileiros.
Ocorreu que, por ocasião da Segunda Guerra, ficando o Brasil e Japão em
situações adversas, o projeto de colonização da referida área fora desativada
com o requerimento indeferido para os japoneses, ficando apenas os brasileiros
credenciados a prosseguiram com suas terras, sendo dessas glebas que se originou
a colonização do território tangaraense, a partir de 1954.
Após a corrida pioneira, que se deu entre 1959 e 1963, a região que compreendia
as glebas: Juntinho, Santa Fé e Santa Cândida começou a experimentar o sabor do
progresso através da convergência de inúmeras famílias para a região continuou
fluindo em bom ritmo.
As primeiras rodovias foram abertas manualmente, pois não havia tratores de
nenhuma ordem. No cerrado, os próprios pneus dos pequenos carros se encarregaram
de demarcar estradas e, com o fluxo constante de veículos no mesmo lugar,
estradas acabaram sendo abertas. Tais caminhos interligavam Tangará, Progresso e
Afonso, descendo a Serra de Itapirapuã até Nova Olímpia.
Referencias
IBGE
Ache Tudo e Região
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