Página sobre a história do estado
brasileiro de Mato Grosso do Sul. O maior evento
histórico que ocorreu nas terras do atual estado foi a
Guerra do Paraguai, nas quais os exércitos Brasileiro,
Argentino e Uruguaio combateram juntos os Paraguaios,
esse combate praticamente destruiu o Paraguai, potência
econômica durante o período da guerra (Século XIX).
Primórdios
A ocupação humana do estado de Mato Grosso do Sul
iniciou-se por volta de 10.000 A.C. através dos
primeiros habitantes indígenas, ancestrais dos
ameríndios contemporâneos Guaranis, Terenas, Caiouás e
Caiapós, tendo, através dos anos, novos povos se
estabelecido na região, como por exemplo os Ofaiés.
A corrida pela prata no Peru
Já a partir do descobrimento da América, iniciou-se uma
corrida para essa região, após a riqueza do Império
Inca, no Peru, ter sido feito famosa por Pascual de
Andagoya. Na década de 1510, Juan Díaz de Solís tentou
alcançar aquele império pelo estuário do Rio da Prata,
mas sua tentativa foi fracassada.
Na década seguinte, no ano de 1524, foi a vez de Aleixo
Garcia, um português sobrevivente da expedição de Solís,
tentar sua sorte. Seguindo a lenda do "Rei Branco",
contada a ele por índios guaranis quando acompanhava
Solís, Aleixo Garcia passou dez anos juntando homens e
recursos para visitar o território. Foi, assim, o
primeiro europeu a pisar em solo sul-matogrossense, o
qual alcançou pelo Rio Paraguai, atingindo a região onde
hoje está a cidade de Corumbá. Aleixo Garcia, no
entanto, foi frustrado em alcançar o Império Inca, pois
foi assassinado por índios em território paraguaio.
Foi Francisco Pizarro quem conquistou e destruiu o
império dos Incas, o qual alcançou vindo do norte, e não
pelo estuário do Prata, como Solís e Garcia haviam
tentado. De qualquer maneira, aventureiros continuavam
tentando fazer o percurso através do Rio Paraná.
Nos anos de 1537 e 1538, o espanhol Juan Ayolas e seu
acompanhante Domingos Martínez de Irala também estiveram
na região de Corumbá, navegando pelo rio Paraguai, e
denominaram Puerto de los Reyes à lagoa Gayva. Por entre
1542 e 1543, Álvar Núñez Cabeza de Vaca, aventureiro
espanhol, também por Corumbá passou para seguir para o
Peru. Outro visitante foi o governador de Assunção,
Domingos Martínez de Irala, que marchou até os Andes.
Tentativas de povoamento - a comunidade de Xerez e os
jesuítas
Em 1579, foi fundada a comunidade de Xerez, nas
proximidades dos rios Miranda e Aquidauana. Esse
povoamento, no entanto, foi destruído pelos índios
Guaicurus.
Na década de 1610 uma missão jesuítica já se expandia de
Assunção, no Paraguai, ao sul de Mato Grosso, tendo
aldeado as comunidades indígenas do Itatim em território
sul-matogrossense. Apoiada pela Espanha e pela Igreja
Católica, a intenção era assegurar o controle do vale do
Rio Paraguai e articular as missões do Itatim com as de
Mojos e Chiquitos, de modo a assegurar proteção ao
altiplano das minas na atual Bolívia. Ao longo das
décadas de 1630 e 1640, no entanto, estas missões foram
brutalmente destruídas pelos bandeirantes, tendo partido
de Antônio Raposo Tavares, em novembro de 1648, o golpe
final.
Grande parte da região do atual Mato Grosso do Sul era
conhecida pelo termo guarani Itatim (pedra branca). No
local houve duas reduções jesuíticas ligadas ao Colégio
Jesuítico de Assunção (1598) com a finalidade de
converter e reduzir os índios itatines, falantes da
língua Guarani. As reduções foram denominadas de Nossa
Senhora da Fe e Santiago de Caaguaçu. A duração da
missão do Itatim foi curta e estendeu-se entre 1631 e
1659, época em que os constantes ataques das expedições
escravistas de paulistas, posteriormente chamadas de
bandeiras, concentraram-se na região abaixo do rio Apa,
para facilitar a defesa.
Brasil Colonial
Os bandeirantes e os primeiros povoamentos
De fato, a região sudoeste do atual estado de Mato
Grosso do Sul por longos anos esteve sob a influência
espanhola. Quanto ao restante do estado, desenvolvia-se
muito lentamente, principalmente devido às dificuldades
de comunicação com o restante do país, apesar de, desde
1617, a região leste sul-matogrossense ter recebido
visitas de bandeirantes paulistas, e de em 8 de abril de
1719 ter sido criada Cuiabá. O sul matogrossense era uma
área de difícil acesso, para não se dizer isolada, e
suas cidades do período colonial foram se fundando
lentamente.
O Rio Miranda.Na atual área de Coxim, nasceu em 1729,
sob o nome de Belliago, alcunha de seu fundador, um
povoado que servia de apoio às monções que iam de São
Paulo ao norte de Mato Grosso. Anos mais tarde, visando
a um tratado de limites existente, foi fundado pelos
espanhóis, em 1774, um povoado na foz de Ipané, e em 13
de setembro de 1775 foi oficialmente fundado o Forte
Coimbra para a defesa da região.
Ainda na década de 1770, o Capitão João Leme do Prado,
ao desbravar os rios Miranda e Aquidauana, encontrou as
ruínas da antiga comunidade de Xerez. Seguindo ordens do
Capitão Caetano Pinto de Miranda Montenegro, governador
da então capitania de Mato Grosso, fundou lá, em 16 de
julho de 1778, os alicerces do Presídio Nossa Senhora do
Carmo do Mondego, mais tarde conhecido por Presídio de
Miranda. Miranda, o povoado que nasceu aos pés da
fortificação e que levava o nome de Presídio, no
entanto, era de difícil acesso por serem precários os
meios de navegação pelo Rio Mondego (hoje Rio Miranda),
e somente os fundadores do local lá permaneciam.
Em 1778, efetuou-se a ocupação da área onde hoje se
localiza Corumbá. Em 21 de setembro desse mesmo ano, a
mando do governador da capitania de Mato Grosso, o
capitão-general Luís de Albuquerque de Melo Pereira e
Cáceres, o Sargento-mor Marcelino Rois Camponês, que
comandava uma expedição militar, adquiriu a posse da
região para a Coroa Portuguesa, fundando o local e
batizando-o com o nome de Nossa Senhora da Conceição de
Albuquerque, sendo então lavrado o termo de fundação.
O Vice-reinado do rio da Prata e o Paraguai
A história colonial sul-matogrossense, entretanto,
permanecia muito ligada à busca pela prata no Peru. Com
a destruição do Império Inca e o sucesso da exploração
da prata em território peruano através do porto de Lima,
a região do Rio da Prata do império espanhol
encontrava-se decadente e suscetível aos portugueses.
Uma vez que estes se expandiam ao Uruguai, em abril de
1776 o rei Carlos III de Espanha ordenou que o
governador do Rio da Prata, Pedro Antônio de Cevallos,
pensasse em uma maneira de desenvolver a região de
Buenos Aires. A resposta foi a tomada da Colônia do
Sacramento dos portugueses e a criação do Vice-reinado
do rio da Prata, que continha praticamente os
territórios dos atuais países da Argentina, Bolívia,
Paraguai e Uruguai, além de uma parte do Rio Grande do
Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
Com as guerras napoleônicas, no entanto, e o ataque
inglês a Buenos Aires, no início da década de 1810, o
vice-reinado do Rio da Prata se desfez. O sudoeste
sul-matogrossense, por sua vez, passou a fazer parte do
Paraguai, que declarou sua independência da Espanha em
15 de maio de 1811.
Brasil Império: povoamento e disputas de território
A frente colonizadora da família Garcia Leal no Bolsão
Sul-Mato-Grossense
No ano de 1829, uma expedição enviada por João da Silva
Machado, Barão de Antonina, e chefiada pelo sertanista
Joaquim Francisco Lopes, visando a expansão dos campos
de pecuária do vale doRio São Francisco, atravessou o
Rio Paraná e fez contato com os índios Ofaiés, que eram
dóceis, à altura da atual Três Lagoas. Também faziam
parte dessa entrada Januário Garcia Leal Sobrinho, seus
irmãos e outros sertanistas. Januário Garcia Leal
Sobrinho e sua família permaneceram, aproveitando a
oportunidade, no leste sul-matogrossense, fundando o
Arraial de Sete Fogos, que mais tarde se tornaria
Paranaíba.
Os irmãos Lopes e a ocupação dos Campos de Vacaria
Quanto à família Lopes, dos irmãos Joaquim Francisco e
José Francisco Lopes, adentrou com outros colonizadores
o sul de Mato Grosso. Iniciou-se, assim, em 1830, o
povoamento de fato das terras que hoje constituem o
atual Mato Grosso do Sul, dando um novo impulso a
antigas povoações como Miranda, Corumbá e ao Arraial de
Belliago, que se tornou Coxim. Data dessa época, também,
o primeiro movimento migratório para a região da colônia
de Dourados - Rio Brilhante, nos "Campos de Vacaria",
seria inicialmente ocupada em 1835 por Antônio Gonçalves
Barbosa.
Desentendimentos quanto ao território
Estando o Governo Central ciente da situação de fluidez
das fronteiras do sul matogrossense, em 1839 o Almirante
Augusto Leverger, Cônsul-Geral do Brasil, foi nomeado
com o intuito de estabelecer boas relações com o
Paraguai. Esse cargo, Leverger só o aceitou em 1843, e
já no ano seguinte os dois países iniciaram conversações
sobre a navegação do Rio Paraguai. Essa tentativa, no
entanto, fracassou, uma vez que o Brasil não revelou em
tempo sua visão sobre os limites fronteiriços. A partir
de então, Bolívia e Paraguai passaram a reivindicar as
terras ocupadas por brasileiros, e medidas foram tomadas
por parte do Governo Central brasileiro a fim de evitar
qualquer movimentação que viesse a ameaçar o território
do país.
Em 1850, aconteceu a solenidade de fundação do forte no
sopé do morro chamado Pão de Açúcar. Ainda nesse ano,
Carlos Antonio López, governante paraguaio, cercou essa
construção e abriu fogo contra ela, obrigando os
soldados a se retirarem. Os índios guaicurus, que viviam
nas proximidades e eram inimigos dos paraguaios,
tentaram socorrer os brasileiros, porém tudo já havia
sido destruído. Revoltados, os guaicurus então subiram o
Rio Paraguai e atacaram o Forte Olimpo.
Em 6 de abril de 1856, Brasil e Paraguai puseram termo
aos desentendimentos, dilatando a questão por dois anos.
Em 1858, a missão Rio Branco, de José Maria da Silva
Paranhos, Visconde Rio Branco, foi a Assunção firmar uma
convenção que liberava a navegação dos rios Paraguai e
Paraná para os navios de guerra do Paraguai e do Brasil.
Nessa ocasião, porém, a questão dos limites foi adiada.
Estas seriam as últimas negociações entre os dois
países, pois seis anos depois Francisco Solano López,
ditador paraguaio, executaria a invasão das terras
disputadas.
A Guerra do Paraguai
Precedentes
A situação na Bacia Platina, que ditaria os rumos no sul
matogrossense, agravar-se-ia ainda mais devido a
acontecimentos no Rio Grande do Sul e Uruguai. A então
província do Rio Grande do Sul permanecia instável desde
o fim da Revolução Farroupilha, uma vez que esta
terminara por negociação política e não por uma derrota
armada infligida pelo Governo Imperial aos revoltosos.
Simultaneamente, o Uruguai encontrava-se em guerra
civil, os blancos do partido do então presidente
Atanásio da Cruz Aguirre tentando sufocar a oposição dos
colorados, partido de Venâncio Flores. Com o agravamento
dos conflitos no Uruguai, tornaram-se comuns
perseguições e saques que atravessavam a fronteira ao
território brasileiro, uma vez que eram numerosas as
famílias de origens brasileiras naquele país. Após o
ultimato feito pelo Governo Imperial ao presidente
Aguirre para que ele consertasse a situação, ultimato
este que não foi aceito, Dom Pedro II, a pedido de
Venâncio Flores, enviou o Exército Brasileiro para
estabilizar aquele país. Em pouco mais de nove meses, a
operação das tropas imperiais brasileiras pacificou o
Uruguai e depôs Atanásio da Cruz Aguirre, em episódio
que levou o nome de Guerra contra Aguirre.
Ofensas paraguaias e invasão do território do sul
matogrossense – a guerra
O ditador paraguaio Solano López, no entanto, utilizou a
intervenção no Uruguai como motivação para o seqüestro
do navio brasileiro Marquês de Olinda e a captura do
presidente da província de Mato Grosso, Frederico
Carneiro de Campos. Pouco mais de um mês depois, as
tropas paraguaias invadiram o território do sul
matogrossense, antes mesmo de uma declaração formal de
guerra ao Brasil. Na verdade, Solano López e suas tropas
tinham em mente uma política expansionista, e pretendiam
criar o "Paraguai Maior", anexando regiões da Argentina,
do Uruguai e do Brasil, como Rio Grande do Sul e Mato
Grosso, e ganhar acesso ao Oceano Atlântico, fator tido
como imprescindível para a continuação do progresso
econômico do Paraguai. Prova disto é o fato de que, em
fins do ano de 1863, um estrategista de alto gabarito
paraguaio, disfarçado de fazendeiro, havia sido enviado
a Corumbá com grande interesse em conhecer os campos do
sul e suas fazendas de gado.
Assim, em dezembro de 1864, o sul de Mato Grosso, na
colônia de Dourados, foi invadido pelo próprio espião
Isidoro Resquim, que desta vez possuía uma numerosa
guarnição consigo. Foi de Requim, conhecedor do valor
das tropas brasileiras desde seus trabalhos de
espionagem, a seguinte frase: "Si todos los brasileiros
son valientes así, mía no és un simples paseo militar".
De fato, havia uma guarnição de soldados sob o comando
do herói Antônio João Ribeiro à espera das tropas
invasoras. Os brasileiros lutaram até o último soldado
ter perdido a vida, só então tendo sido possível às
tropas paraguaias avançarem.
Durante a guerra da Tríplice Aliança, quando o Brasil se
uniu à Argentina e ao Uruguai para combater o Paraguai,
o sul matogrossense foi palco de alguns de seus mais
dramáticos episódios.
Após ter sido aprisionada no Rio Paraguai a Canhoneira
Amambaí, pertencente à Marinha do Brasil, e uma vez
declarada a guerra, após a invasão do sul matogrossense
pelo exército paraguaio, o Governo Imperial brasileiro
enviou um contingente militar terrestre para combater os
invasores em Mato Grosso. Em abril de 1865, uma coluna
partiu do Rio de Janeiro e se juntou a reforços em
Uberaba, percorrendo mais de dois mil quilômetros a pé
até alcançar Coxim. Essa cidade, no entanto,
encontrava-se deserta e saqueada, o mesmo tendo ocorrido
em Miranda e em outros povoamentos do sul matogrossense.
Suas populações, ou haviam fugido, ou sido mortas, ou
levadas reféns para o Paraguai, onde executaram
trabalhos forçados.
Enfrentando adversidades, a exaustão e a falta de
alimentos, que não encontravam nas cidades abandonadas,
as tropas do Exército do Brasil somente resistiram
graças às doações feitas por José Francisco Lopes do
gado de sua própria família para alimentá-los, já nos
limites do território brasileiro. José Francisco Lopes,
que tivera a família seqüestrada pelos paraguaios,
fizera-se voluntário e guiava as tropas brasileiras,
graças ao seu conhecimento do território. Mesmo com sua
ajuda, no entanto, era grande a perda de brasileiros.
Dos 2.780 homens que originalmente faziam parte daquele
destacamento, em janeiro de 1867, quando alcançaram a
fronteira paraguaia, restavam somente 1.680.
Retirada da Laguna
Nesse mesmo mês, o coronel Carlos de Morais Camisão
assumiu o comando da coluna e invadiu o território
paraguaio. Os brasileiros conseguiram penetrar até
Laguna, a qual alcançaram em abril. Longes das linhas
brasileiras e sem víveres para o sustento das tropas,
afligida por doenças como cólera, tifo e beribéri, a
coluna do Exército brasileiro teve de se retirar sob os
constantes ataques da cavalaria paraguaia, que
utilizavam táticas de guerrilha à moda indígena,
inflingindo perdas severas aos brasileiros. Nessa
retirada, no entanto, a atuação do Guia Lopes foi vital
para impedir um total massacre dos brasileiros. Mostrou
os caminhos aos soldados brasileiros por terras
sul-matogrossenses e despistou o inimigo em um terreno
difícil. Entre os brasileiros se encontrava o Visconde
de Taunay, que mais tarde escreveria um livro sobre o
assunto. Somente 700 homens sobreviveram, mas sem o Guia
Lopes poderiam ter morrido muitos mais.
Fim da guerra
Após a Batalha Naval do Riachuelo e a rendição de
Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, no entanto, os
confrontos se dariam em solo paraguaio. Pode-se dizer
que o último ano da guerra não passou de uma caça ao
ex-ditador paraguaio Francisco Solano López em seu
próprio país, estando as tropas aliadas sob o comando do
Conde d'Eu.
Quando terminou a Guerra do Paraguai em 1 de março de
1870, o sul matogrossense se encontrava chacoalhado pela
convulsão social. O processo de povoamento, que começava
a se acelerar na primeira metade do século XIX, havia em
muitos locais cessado. No centro, oeste e sul do atual
estado de Mato Grosso do Sul, encontravam-se
propriedades e povoados abandonados ou destruídos,
estando as populações dispersas e abatidas pela fome,
miséria e doenças.
Constrastes de colonização no pós-guerra
Constância da frente colonizadora dos Garcia Leal no
leste sul-matogrossense
A única região em que a vida continuou a um passo
regular foi a região leste e nordeste do estado, onde a
frente colonizadora da família Garcia Leal e seus
agregados aos poucos se expandia ao sul da cidade de
Paranaíba para na década de 1880 colonizar o município
de Três Lagoas.
Ao contrário do que aconteceu no restante das terras
sul-matogrossenses, as propriedades desta região nunca
se encontraram devolutas ou improdutivas devido à
guerra. Foi por esse motivo que, estando essas terras
ocupadas, as próximas frentes colonizadoras a adentrar o
sul matogrossense não se demoraram nesta área, muito
embora fosse muito atraente do ponto de vista econômico.
Durante a Retirada da Laguna, por exemplo, o próprio
Visconde de Taunay demorou-se na vila de Paranaíba, onde
encontrou em Jacinta Garcia Leal inspiração para
escrever seu livro Inocência. É necessário lembrar, no
entanto, que mesmo esta pacata vila sofreu com os males
do conflito no Paraguai, entre eles doenças como a
lepra, que infestaram a região e com a qual a própria
Jacinta Garcia Leal encontrava-se contaminada.
Reocupação do centro, oeste e sul de Mato Grosso do Sul
Uma vez terminada a Guerra do Paraguai, aqueles soldados
que no sul matogrossense haviam estado passaram a
relatar, ao retornarem a suas províncias de origem, as
gigantescas terras devolutas de vacarias existentes em
Mato Grosso. Iniciou-se, assim, um massivo processo de
migração regional para a área, com povoadores sobretudo
oriundos de províncias como Minas Gerais, Rio Grande do
Sul, São Paulo e Bahia.
Datam deste período a ocupação, por exemplo, de
municípios como Campo Grande e Sidrolândia, assim como a
reocupação da área de Dourados. Nessas localidades,
estabeleceram-se extensas fazendas de pecuária que
faziam uso do pasto nativo existente na região. O
próprio nome "Campo Grande", por exemplo, alude aos
largos campos de vacaria, ou seja, pradarias, com
vegetação gramínea ideal para a criação de gado. Nessa
área estabeleceu-se José Antônio Pereira com seu filho
Antônio Luiz, os escravos João Ribeira e Manoel e o
sertanista Luiz Pinto Guimarães. Vindos por Goiás,
passaram pelo atual município de Costa Rica, próximo à
frente colonizadora dos Garica Leal, e adentraram o sul
matogrossense até sua área central, na confluência dos
córregos Segredo e Prosa.
Assim, em meio à falta de perspectiva que abatia o sul
matogrossense, criavam-se oportunidades para guinadas
nos rumos, especialmente devido à presença de terras
férteis em grande quantidade e às possibilidades de
atividades extrativas. O crescente comércio
internacional foi fator predominante para a reocupação
da fronteira oeste brasileira, feita possível pelos dois
primeiros ciclos econômicos sul-matogrossenses: o ciclo
da erva-mate e o ciclo do gado.
A Companhia Matte Larangeira e a República Velha
No ano de 1872, a uma comissão mista formada por
brasileiros e paraguaios coube re-desenhar os limites
entre os dois países, tarefa que nunca havia sido
completada anteriormente à guerra. Nesse processo de
remarcação de fronteiras esteve presente Thomás
Larangeira, que acompanhava um envolvido nas negociações
que era seu patrão. Assim, foi possível a Thomás
Larangeira conhecer bem a área de fronteira, onde, em
meio a terras indígenas e devolutas, encontrou extensos
ervais nativos de Ilex paraguariensis, a erva-mate.
Concessão para atividades extrativas em terras devolutas
– o início
Quando do final dos trabalhos de demarcação, no ano de
1874, Thomás Larangeira trouxe do Rio Grande do Sul
especialistas em erva-mate para que pudesse dar início
aos trabalhos nos ervais, tendo contratado, também,
mão-de-obra paraguaia. Dez anos mais tarde, por
intermédio do Barão de Maracaju, recebeu a concessão
para explorar legalmente aquelas terras, que até então
encontravam-se devolutas. A autorização deu-se pelo
Decreto nº 8,799 do Governo Imperial, datando de 9 de
setembro de 1884 e assinado por Dom Pedro II. Dada a
facilidade em se encontrar mercados consumidores,
principalmente o Uruguai e a Argentina, e a inexistência
de grandes dispêndios na lida da erva-mate, o negócio
mostrou-se, desde o começo, muito lucrativo.
O império da Matte Larangeira durante a República Velha
No ano de 1892, por fim, Thomás Larangeira associou-se
aos Murtinho, uma família tradicional de políticos do
sul de Mato Grosso, e criou a Companhia Matte Larangeira.
Também passaram a utilizar o Porto Murtinho, criado por
Antônio Correia às margens do rio Paraguai, para
despachar o mate para a Argentina. O transporte da erva,
colhido de maneira puramente extrativa, exigia
oitocentas carretas e vinte mil bois, e, de forma a
levar o produto até o porto, a Companhia Matte
Larangeira construiu um aterro ferroviário de 22 km, uma
vez que o velho interesses - a oligarquia do sul
sul-matogrossense e a aversão à Matte Larangeira e ao
governo do norte.
Devido a sua associação com
importantes famílias políticas de Mato Grosso, Thomás
Larangeira e sua companhia sempre tiveram privilégios na
exploração dos ervais sul-matogrossenses, a começar pelo
fato de que trabalhavam de maneira privada em terras que
não lhes pertenciam. Também obtinham isenções fiscais.
Com o povoamento do sul do território do atual Mato
Grosso do Sul, no entanto, tensões logo começaram a
surgir, uma vez que o interesse nas terras exploradas
pela Matte Larangeira aumentou significativamente.
Os coronéis da região sul do atual Mato Grosso do Sul
passaram a desejar, já durante a República Velha, o
reconhecimento de posse da terra ocupada por eles nas
vizinhanças dos ervais, terras por um motivo ou outro
não exploradas pela Companhia Matte Larangeira, que, no
entanto, continuava a ter licença de exploração sobre
elas. Em oposição às regalias dadas à companhia pelo
governo estadual, que nunca daria a eles posse de terra
enquanto a Matte Larangeira ali existisse, os coronéis
do sul sul-matogrossense uniram-se, desta forma, à
oligarquia do norte do estado, que rivalizava à Matte
Larangeira por ter interesse em seus ervais.
Nascimento do sentimento divisionista
Neste complexo conflito de interesses iniciaram-se, por
fim, as idéias divisionistas no sul matogrossense. Os
coronéis do sul de Mato Grosso do Sul passaram, a partir
da formação da aliança com a oligarquia do norte, a
fazer oposição armada ao governo estadual e à Matte
Larangeira.
O advento da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil
O eixo Campo Grande – Três Lagoas, a aproximação com São
Paulo e o distanciamento do norte
Nas primeiras décadas do século XX, com o advento da
Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, considerada um
sinônimo de desbravamento da região oeste brasileira,
foi notável o aumento da proximidade do sul
matogrossense com o estado de São Paulo. De fato,
conquanto agora estivesse ligado por vias férrea,
rodoviária e fluvial à capital paulista, o sul de Mato
Grosso somente se ligava à capital mato-grossense,
Cuiabá, através de uma estrada precária.
Dessa maneira, com o estabelecimento das viagens de trem
entre São Paulo e Mato Grosso do Sul, o aumento no
número de migrantes dinamizou a economia
sul-matogrossense, vinculando-a à paulista e permitindo
a expansão de cidades cuja atividade principal era a
pecuária, como Três Lagoas e Campo Grande.
Simultaneamente, embora continuasse a estar ligada aos
principais centros comerciais da Bacia do Prata, em
especial Buenos Aires e Montevidéu, através do rio
Paraguai, Corumbá, que na década de 1930 possuía vinte e
cinco bancos internacionais e a libra esterlina como
moeda corrente, começou a ver sua economia decair. Isso
se deveu ao fato de que a N.O.B transferiu o eixo
econônico do Rio Paraguai, Corumbá e Cuiabá para Campo
Grande, Três Lagoas e o leste do estado.
O crescimento demográfico - popularização, militarização
e fortalecimento do movimento divisionista
Entre outros benefícios trazidos pela Estrada de Ferro
Noroeste do Brasil estavam o crescimento populacional da
região sul matogrossense, a urbanização dessa população
e, a somar-se a essas positivas mudanças sócio
econômicas, a transferência, em 1920, do comando da
Circunscrição Militar estadual de Cuiabá para Campo
Grande. Dado o subseqüente aumento do contingente
militar no sul, as oligarquias sul-matogrossenses,
insatisfeitas com a aliança anterior com a oligarquia do
norte, de que haviam participado para alcançar seus fins
divisionistas, aliaram-se aos militares, submetendo-se,
desta maneira, à influência paulista de forma a
fortalecer suas causas de divisão estadual. Ao mesmo
tempo, juntavam-se a este movimento as novas lideranças
dos profissionais urbanos. A causa, assim, expandia-se
para além dos ervais.
A Revolução Constitucionalista de 1932 – o estado de
Maracaju
A partir da década de 1930, as forças políticas
divisionistas do sul, de maneira mais organizada,
passaram a realizar pressões junto ao Governo Federal.
Quando da Revolução Constitucionalista de 1932, a região
sul matogrossense aderiu ao movimento sob a condição de
que, em caso de vitória dos revoltosos, obteria a
separação do norte. Os militares rebelados, sob o
comando de Bertoldo Klinger, comandante da Circunscrição
Militar de Mato Grosso, que funcionava em Campo Grande,
instalaram no sul matogrossense um governo dissidente
sob Vespasiano Martins, então prefeito de Campo Grande.
Após três meses de luta, em que o sul do estado de Mato
Grosso autodenominou-se "estado de Maracaju", os
divisionistas (constitucionalistas) foram derrotados,
não se cumprindo, assim, a promessa de divisão. Esta
revolução, no entanto, divulgou o movimento divisionista,
tendo Campo Grande se tornado o centro político do mesmo
com cidades como Três Lagoas e o Bolsão
Sul-Matogrossense apoiando-o.
A Marcha para o Oeste
A Liga Sul-Matogrossense e o frustrado abaixo-assinado
divisionista
Dois anos após o fim da Revolução Constitucionalista,
jovens estudantes do sul matogrossense aproveitaram a
oportunidade da elaboração da Constituição brasileira de
1934 para fundar a Liga Sul-Matogrossense e conquistar,
através de um abaixo-assinado, o apoio dos
sul-matogrossenses para um manifesto que seria
encaminhado ao presidente do Congresso Nacional
Constituinte visando sensibilizar os constituintes de
forma a que eles, na elaboração da Constituição,
aprovassem a divisão do Estado de Mato Grosso.
Sem que
fosse parte de suas ambições iniciais, a Liga
Sul-Matogrossense acabou por acender a campanha
divisionista no sul matogrossense, uma vez que coletou o
surpreendente número de treze mil assinaturas a favor de
sua causa. Apesar disso, o abaixo-assinado não surtiu
efeito na Constituinte, não havendo a divisão do estado.
Em vez disso, Getúlio Vargas, preocupado com a ordem na
região fronteiriça, nove anos mais tarde criaria o
Território de Ponta Porã e aumentaria significativamente
o contingente de militares no sul matogrossense, além de
criar o nacionalista projeto "Marcha para o Oeste".
Brasil Central - o vazio populacional e as companhias de
colonização
Até a segunda metade do século XX, o Brasil Central
continuava a ser uma área desconhecida para a maior
parte dos brasileiros, carregando ares mitológicos
devido a seu território pouco desbravado e hostil. No
censo de 1940, por exemplo, o sul matogrossense contava
com somente 238.640 habitantes. Esse que era considerado
um vazio populacional no Mato Grosso do Sul passou, a
partir de então, a servir de atrativo para empresas
colonizadoras entusiasmadas com o sucesso de suas
similares empreitadas nos estados de São Paulo e Paraná
– neste último, por exemplo, a Companhia de Terras Norte
do Paraná foi responsável, nas décadas de 1920 e 1930,
por toda a colonização de sua região oeste,
compreendendo hoje municípos como Londrina e Maringá,
através de um sistema de pequenos loteamentos rurais
para imigrantes que escapavam das dificuldades
econômicas e conflitos da Primeira e Segunda guerras
mundiais.
Cidades nos moldes fordianos
Como no oeste do Paraná, em Mato Grosso do Sul, onde a
terra era farta e, então, barata, essas companhias
desenvolveram colônias que variavam de 20 a 30 hectares
e que possuíam comunicação a maiores centros por
estradas. Influenciado pelos empresários que se
sucederam nesse tipo de empreendimentos, Jan Antonin
Bata, imigrante tcheco e proprietário da Companhia
Viação São Paulo/Mato Grosso, comprou 6.000 km² na área
dos atuais municípios de Batayporã, Bataguassu e
Anaurilândia. Além de empreendedor, no entanto, Jan
Antonin Bata se diferenciava das empresas de colonização
por ter sido fortemente influenciado pelos pensamentos
de Henry Ford e suas experiências com
sitiantes-operários, que visavam desenvolver um
operariado mixto industrial-agrário.
Assim, era a
intenção de Jan Antonin Bata criar sociedades comunais
em área rurais, onde parte das famílias dos operários de
suas fábricas de calçados se dedicaria à agro-pecuária
em pequenas propriedades, juntando-se a eles os próprios
funcionários das fábricas no final de cada dia para
ajudar no trabalho agrícola. Já havia iniciado similar
tentativa no município de Batatuba em São Paulo no ano
de 1941, mas o preço da terra naquele local lhe foi
proibitivo. Sendo assim, em 1942 fundou outro município,
desta vez em terras sul-matogrossenses: Bataguassu. O
sudeste e o leste sul-matogrossenses seriam, aliás,
ideais para tais experimentos, uma vez que na década de
1950 Arthur Hoffig fundaria o município de Brasilândia
seguindo os mesmos preceitos fordianos do "rei dos
calçados". Anos depois, seguiria Batayporã, do próprio
Bata, na mesma região.
O governo Getúlio Vargas, o "espaço vital" e a Marcha
para o Oeste
O grande crescimento populacional em Mato Grosso do Sul
adveio, no entanto, de campanha do próprio Governo
Getúlio Vargas, uma vez que os modelos de cidade de Bata
e Hoffig se baseavam em populações pequenas de torno de
dez mil pessoas.
Ao mesmo tempo em que se iniciam os empreendimentos de
Bata, na década de 1940, uma vez que um dos motivos
teóricos da Segunda Guerra Mundial havia sido a questão
do "espaço vital", o governo Getúlio Vargas ordenou a
criação de seis territórios no Brasil – cinco deles na
região oeste do mesmo-, que seriam administradas
diretamente pelo Governo Federal. Assim, em 13 de
setembro de 1943 foi criado o Território de Ponta Porã,
abrangendo os municípios de Dourados, Porto Murtinho,
Miranda, Nioaque, Bela Vista, Maracaju e Bonito, sendo
Ponta Porã sua capital. Seu governador durante os três
anos de existência foi o militar Ramiro Noronha – o
território seria extinto em 18 de setembro de 1946 pela
Constituição de 1946. É importante ressaltar, no
entanto, que Campo Grande, a cidade da qual emanava o
movimento divisionista, foi mantida de fora desse
território. Além disso, Vargas decidiu povoar as áreas
de menor densidade populacional do Brasil, nomeadamente
o Oeste do país, através de um projeto denominado
"Marcha para o Oeste".
Associação com as companhias colonizadoras
Tal projeto visava ocupar o oeste do Brasil através do
assentamento de colonos que se dedicariam à agricultura
– mormente de subsistência -, portanto ocupando os
"espaços vazios" do Brasil Central. Assim "expandindo o
Brasil dentro de suas próprias fronteiras", o Governo
Federal logo passou a fazer uso de empresas
colonizadoras particulares – as mesmas que quase que
simultaneamente já passavam a se interessar pelo sul
matogrossense após o sucesso no Paraná desse modelo
colonizador. Devido à xenofobia do Governo Vargas, no
entanto, diferentemente do que havia ocorrido no oeste
paranaense, desta vez os colonos não eram europeus em
sua maioria, mas, sim, sulistas – mais especificamente
gaúchos -, que após três anos de trabalho na terra
receberiam sua posse definitiva. Foi nesses moldes que
em 1943 foi criada a Colônia de Dourados, localizada no
atual Estado de Mato Grosso do Sul. Nessa colônia, que
também atraiu levas de imigrantes que já se encontravam
em outras áreas do Brasil, como os japoneses, além de
brasileiros de estados outros que o Rio Grande do Sul,
produzia-se principalmente o café. Mais tarde, desse
projeto se originaram Fátima do Sul, Glória de Dourados,
Deodápolis, Douradina, Jateí e Itaporã.
Uma cajadada - o sufocamento do movimento divisionista e
o afastamento da Companhia Matte Larangeira
Dentre os resultados do projeto "Marcha para o Oeste"
esteve o apaziguamento dos divisionistas e seu
envolvimento na política do Governo Vargas. Entre outras
coisas, Vargas conseguiu com que a Companhia Matte
Larangeira se resignasse a esta sua versão da reforma
agrária, tendo esta companhia regularizado as posses de
terras dos ocupantes dos ervais em troca de ser
indenizada pelos arrendamentos. A verdade é que os
ervais já se encontravam devastados e nem o Instituto
Brasileiro do Mate, também criado por Vargas, atendeu às
necessidades da Mate Laranjeira, não permitindo à
companhia grandes lucros - ela aos poucos se
desinteressava do estado. Ao mesmo tempo a separação do
Território de Ponta Porã foi um balde de água fria tanto
ao movimento divisionista quanto à própria Companhia
Mate Laranjeira, além de ter deixado insatisfeito o
governo estadual de Mato Grosso.
Apesar de tudo isso, essa época foi de grande
crescimento econômico ao sul de Mato Grosso, gerando
impostos que ainda assim não eram suficientes para
equilibrar as contas estaduais. Além da especulação
imobiliária, uma vez que migrantes mal sucedidos vendiam
suas terras a outros bem sucedidos, que aos poucos
formavam latifúndios, outro resultado da Marcha para o
Oeste foi a série de massacres a povos indígenas no sul
matogrossense. A despeito do extermínio em massa de
populações ameríndias, no entanto, a população do sul
matogrossense mais que duplicou entre o censo de 1940 e
o de 1960, contando 579.652 naquele ano. Formaram-se
novas oligarquias, ao mesmo tempo que a falta de
cuidados na lida com os ervais levou à devastação dos
mesmos, desviando o foco da Companhia Mate Laranjeira
para a Argentina.
Ciclo do Gado
Há correntes teóricas que afirmam, no entanto, que no
estado de Mato Grosso do Sul nunca houve um fim ao Ciclo
do Gado, sendo o Ciclo da Erva-Mate um aspecto
momentâneo e localizado da economia, portanto, um ciclo
menor quando comparado ao outro, que já duraria duzentos
anos.
O Ciclo do Gado teve início quando, no final do século
XVIII, o fim do Ciclo do Ouro levou a uma crise
econômica nos estados de Minas Gerais, Goiás e Mato
Grosso. Segundo relatos em primeira pessoa daqueles que
estiveram presentes nessas províncias na primeira década
do século XIX, a situação era de convulsão social e de
pobreza absoluta em cidades quase fantasmas.[5] Ainda
nas primeiras décadas do século XIX, entretanto, Minas
Gerais conseguiu expandir o terceiro setor de sua
economia, ampliando suas trocas comerciais com
províncias como o Rio de Janeiro, e extraindo novos
metais de seu quadrilátero ferrífero. Já os estados de
Goiás e Mato Grosso não foram capazes de expandir outros
setores de sua economia, tendo havido um processo de
ruralização. Passaram a fornecer, desta maneira, gado
para a província de São Paulo através do intermédio da
província de Minas Gerais.
Mesmo quanto à ocupação do leste sul-matogrossense pelos
Garcia Leal e seus agregados e do centro
sul-matogrossense pelos Lopes, a expansão dos currais de
gado foi um fator determinante. De fato, a região sofreu
com a Guerra do Paraguai, sobretudo devido a doenças.
Mas, vale lembrar que o leste sul-matogrossense foi a
única área do atual estado que nunca foi abandonada
durante a guerra. Assim, rapidamente recuperada após o
conflito, essa frente colonizadora logo se expandiu ao
sul, oeste e norte. Foi com a chegada da Estrada de
Ferro Noroeste do Brasil pela cidade de Três Lagoas, no
início do século XX, que o Ciclo do Gado retomou
significação financeira local e nacional.
A Divisão
Já na década de 1950, era inquestionável o aumento da
importância do leste do estado, uma vez que o Bolsão
Sul-Matogrossense já começava a exercer influência
política ao nível estadual, tanto no norte, quanto no
sul. Essas demonstrações de poder que se iniciaram com a
candidatura de Filadelfo Garcia à Câmara dos Deputados
do Brasil se confirmaram com a eleição de Pedro
Pedrossian ao governo de Mato Grosso em 1965.
O governo federal com base na lei complementar nº 20,
estabeleceu, em 1974, a legislação básica do período da
ditadura militar para a criação dos estados e
territórios brasileiros, reascendendo, assim, a campanha
pela autonomia do sul matogrossense.
De fato, em 11 de outubro de 1977, o presidente Ernesto
Geisel assinou a Lei Complementar 31, que criou o Estado
de Mato Grosso do Sul, em área desmembrada do estado de
Mato Grosso. Já em 1 de janeiro de 1979, tomaram posse
os deputados eleitos, em 15 de novembro de 1978, para a
Assembléia Legislativa e Constituinte de Mato Grosso do
Sul, conforme previsto na LC 31. O primeiro governador,
o engenheiro gaúcho Harry Amorim da Costa, servidor
público do Departamento Nacional de Obras de Saneamento
(DNOS), autarquia federal hoje extinta, foi nomeado pelo
presidente Geisel, de acordo com a mesma Lei
Complementar.
Atualmente
Na década de 1980 o governo estadual procurou voltar-se
para os problemas sociais, a educação e a saúde. Foi
instalada a primeira companhia da Polícia Florestal,
incumbida de reduzir as ações predatórias no Pantanal,
área depredada por empresas pesqueiras e por caçadores.
Implantou-se também o Grupo de Operações de Fronteira (GOF)
para reprimir o tráfico de drogas, o contrabando e a
caça ilegal de animais silvestres nos 400 km de
fronteiras com a Bolívia e o Paraguai. No ano de 1982
houve as primeiras eleições diretas do estado. Em 1986,
a estrada que liga Campo Grande á Corumbá foi finalmente
asfaltada.
A par do desenvolvimento do turismo ecológico,
propiciado pelo pantanal, na década de 1990 cresceram as
perspectivas de desenvolvimento econômico, sobretudo com
a decisão de se concluir as obras da Ferronorte, que
permitirá o transporte ferroviário da produção agrícola
para o porto de Santos, no estado de São Paulo. Em 1993
foi criada a Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
e em 1997 foi privatizada a Empresa Energética do Estado
de Mato Grosso do Sul. Em 1998 é eleito governador Zeca
do PT e em 2002 Zeca do PT é é o primeiro governador
reeleito da história de Mato Grosso do Sul. Em 2005 é
aprovada a criação da segunda universidade federal no
estado, a Universidade Federal da Grande Dourados. |
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