Os precursores - Jesuítas e Sertanistas
Nos idos de 1553 se
iniciaram efetivamente as explorações das margens de um curso d'água, a
partir de sua foz, batizado mais tarde como Rio Cachoeira. Coube aos
Jesuítas, no trabalho de catequese dos índios, ao adentrarem pela selva,
a formação de pequenas roças de milho e mandioca, para facilitar o
trabalho de atração dos Silvícolas. Entre 1730 e 1790 bandeiras varavam
a selva, à caça de escravos e índios. Teria o sertanista João Gonçalves
do Prado propalado a idéia de existência de ouro, mais a Sudoeste. Um
outro, João da Costa, embalou o sonho de encontrar uma fantástica cidade,
contendo edificações repletas de ouro.
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As roças abertas pelos jesuítas, típicas clareiras na mata, desapareceram com o tempo. Duas delas, localizadas à margem do Rio Cachoeira lograram sobreviver, organizando-se em conglomerados urbanos: Ferradas e Tabocas. |
Segundo o historiador
Silva Campos, na sua obra "Crônica da Capitania de São Jorge dos Ilhéus"
(citado por José Dantas de Andrade), no princípio do século XVIII a
penetração do colono no sertão (a partir de Ilhéus) era dificultada pela
hostilidade dos índios das tribos Guerrens, Pataxós Camacãs,
descendentes diretos dos índios encontrados por Cabral quando aqui
aportou (Andrade, 1968). Alie-se a essa dificuldade "a mata densa que
acompanhava o litoral à pouca distância formando uma faixa initerrupta e
de passagem difícil e o relevo acidentado".
Partindo de Banco da
Vitória, sertanistas desafiaram os perigos da penetração nas matas
infestadas de índios e feras, e conseguiram abrir estradas. Uma delas
iniciava-se em Banco da Vitória margeando o Rio Cachoeira; outra, do
lugar Castelo Novo, acompanhando o curso do Rio Almada. Essas estradas
bifurcavam-se no local onde anos mais tarde surgiria a cidade de
Itabuna. Para quem saísse de Ilhéus visando aprofundar-se no interior
por qualquer dessas estradas precisava alcançá-las através de canoas,
barcas ou lanchas, seguindo, obviamente, o leito dos referidos rios.
Em princípio do século
XIX foi iniciada a abertura de uma estrada ligando Ilhéus ao Planalto da
Conquista, para trazer ao litoral o gado criado no alto do rio Pardo.
Esse empreendimento não teve sucesso e, em 1816, o príncipe Maximiliano,
ao percorrê-la com sua comitiva, encontrou-a em completo abandono. Essa
estrada fora mandada abrir por um senhor de engenho, Felisberto Caldeira
Brant, futuro Marquês de Barbacena, e teria lhe custado a fortuna de
dois mil cruzados.
Em 1815, o Conde dos
Arcos, então Governador da Província da Bahia, determinou que o
aldeiamento dos índios próximo ao Almada fosse transferido para outro
local, tendo sido escolhido o lugar denominado Ferradas, que já se
constituía referência como pouso de tropeiros e o acampamento que
iniciava a estrada aberta com destino à zona sertaneja da Vila Imperial
da Vitória da Conquista.
Esse "aldeiamento dos
índios" estava a cargo dos capuchinhos, que ali desenvolviam intenso
trabalho de catequese, e foram eles os encarregados de cuidar do novo
local indicado pelo Governador da Província. Em Ferradas (que viria a
ser denominada Vila de D. Pedro de Alcântara em 19 de agosto de 1874,
através da Lei 1425, sancionada pelo Governador da Província da Bahia
Dr. Venâncio Lisboa), já havia o trabalho iniciado por Frei Ludovico de
Livorno, antigo capelão de Napoleão Bonaparte, que ali se instalara nos
primeiras décadas dos século XIX, com vistas à conquista dos índios
Pataxós.
Ferradas, que encontrou
um período de decadência, somente retomou seu cerscimento com o
povoamento de Tabocas. Antes fora da visita por personagens ilustres,
como o príncipe alemão Maximiliano Alexandre Felipe de Wied Neuwied,
naturalista, e sua comitiva, em 1815/1816, e os sábios e cientistas
holandeses Von Spix e Von Martius, em 1817. Estes últimos publicaram os
seus estudos através da obra "Reise in Brasilien", nela registrando
circunstancioso relatório, que em muito contribui para o levantamento
histórico da região.
Duas versões há para a
denominação Ferradas: uma da conta de que os Jesuítas, para demarcarem o
território que utilizavam naquele pouso, buscou vinculá-lo ao símbolo
cristão, e fizeram marcando várias árvores com um ferro em forma de cruz,
ficando, assim, as "árvores ferradas", nome por que o local ficara
conhecido nos seus primordios. A outra versão vincula o nome ao fato de
a localidade, como pousada de tropeiros e viajantes - em sua maioria
destinando-se a Vitória da Conquista -, servir de ponto para "ferrar" os
animais que enfrentariam as estradas pedregosas e lamacentas.
Os primeiros
desbravadores e a fundação da localidade de Tabocas
A historia de Tabocas,
em seus primórdios, não apresenta registros escritos. Os dados mais
fundamentais se originam da oralidade, em levantamento realizado por um
de seus pricipais historiadores: José Dantas de Andrade, a partir dos
anos 30 deste século.
Tem sido pacífica a
versão de que os primeiros a chegarem ao local onde se iniciou a
povoação foram o sergipano Félix Severino de Oliveira, nascido em
Chapada dos índios, depois rebatizado Félix Severino do Amor Divino, e o
cabloco Manoel Constantino, já morador em Banco da Vitória. Félix
Severino, que após sua chegada a Ilhéus dirigia-se a Banco da Vitória,
ouviu de Manoel Constantino a informação de conhecer um lugar que ficava
antes do aldeamento dos índios (Ferradas), e que parecia ser bom para
colocar roças. Manoel Constantino prontificou-se a mostrá-lo a Félix
Severino, tendo ambos partido, à pé, de Banco da Vitória, seguindo a
estrada que se dirigia ao sertão, aquela que margeava o rio Cachoeira.
Após trinta quilômetros chegaram ao local indicado, tendo sido aberta
uma picada na mata, em direção ao rio, que em princípio pensaram ser um
simples rebeirão por ser muito estreito em relação ao rio Cachoeira.
Prosseguiram a picada por uns quarenta metros, encontrando a margem de
outro rio - assim julgaram -, e depois de atravessarem, e subirem uma
encosta na margem oposta, notaram que haviam passado por ilha fluvial (conhecida
depois como Ilha do Jegue). Ali arriaram seus pertences e escolheram o
lugar para uma roça, construindo uma pequena cabana. Corria o ano de
1857. Ali teria sido construída a primeira casa de Itabuna, num local
denominado Marimbêta. Atravessando o rio, Félix Severino do Amor Divino
fez com que seu amigo Manoel Constantino botasse roça, no local onde é
hoje a Praça Olinto Leone.
Alguns anos mais tarde,
entusiasmado com a ideia de ali fixar-se, Félix Severino do Amor Divino
mandou buscar alguns parentes e amigos em Sergipe. Assim, em 27 de
setembro de 1867 chegaram Militão Francisco de Oliveira, José Severino
de Oliveira e Martinho Severino de Oliveira, seus irmãos.
Também João
Pereira e José Alves, seus primos. José Alves, que se fizera acompanhar
da família, tinha entre seus filhos um de quatorze anos, José Firmino.
José Alves e a família receberam de Félix uma área de terras um pouco
mais rio acima, num local denominado pelos índios de burundanga (onde
existe hoje o aeroporto de Itabuna).
Iniciaram derruba de mata e a
construção de casas. Naquela região foi também plantada a primeira roça
de cacau do município, com as sementes mandadas trazer por José Alves,
adquiridas em uma colônia estrangeira que existia em cachoeira de
Itabuna.
Anos depois já eram colhidos os primeiros frutos de cacau. Ali
também José Firmino Alves, em 1877, estabelceu-se com casa de negócio, e
dois anos mais tarde já contava o local com três casa residenciais, uma
rancharia e uma escola, certamente a primeira de Tabocas, tendo como
professora Maria Rosa de Jesus, conhecida por "Rosa Camarão". Com a
morte do pai, e assumindo a responsabilidade do comando da família, José
Firmino Alves, mudou-se para o "arraial" que seu parente Félix Severino
do Amor Divino criara ali perto, instalando então, no local, uma grande
casa de nogócio para atender aos moradores, viajantes, tropeiros e
boiadeiros.
Versão obtida em recente
publicação informa sobre a existência de desbravadores já fixados no que
hoje constitui os limites urbanos de Itabuna antes de 1850, no local
denominado Caldeirão Sem Tampa (atualmente o Bairro de Fátima), onde
teriam propriedade Francisco Manoel Cidade e D. Maria Cidade. Deles
herdou seu filho Manoel Cidade, que ali se instalou em 1851, como
informa testemunho prestado a José Pereira da Costa e seus familiares,
nos idos de 1897, quando em Tabocas já se destacavam ruas como a
Floriano Peixoto, Rio Branco, Rua da Lasca, Rua da Areia e Rua da Lama,
e constou do seguinte relato:
"Aqui
estou desde 1851, herança que recebi de meus pais, falecidos em 1850 e
1851...Esta fazenda que herdei de meus pais não tinha habitantes. Ele e
eu fomos os que começamos a povoar este lugar que hoje conta com 155
casas, sendo 100 de minha propriedade e 55 do povo, a quem temos dado
terras e material gratuito". Grande parte dessas casas (cerca de 148)
foi destruída com a enchente de 1914.
Também ali é informada a
razão do nome Tabocas, que estaria ligado ao corte de uma sapucaia, em
clima de festa - nas imediações do lugar onde foi construída depois a
Usina Luz e Força (atualmente Bairro de Fátima), a mando de Fracisco
Manoel Cidade e Dona Maria Fernandes, que servia de marco entre ambos "para
fazerem estacas e construir um corredor entre eles, originando a
abertura de uma estrada para Água Branca em lugar de uma existente por
detrás de Tabocas". O nome, assim, estaria vinculado ao "dar a taboca",
ou seja, a derrota que um dos grupos machadeiros impõe ao outro, quando
o entalhe "que passava por baixo dos gaviões da outra" dado na árvore
consuma a derruba. A outra versão para nome está vinculada às "tabocas",
denominação dada às roças pelos sergipanos.
Tomando-se as revelações
escritas a conclusão é de que, em meados da segunda metade do século
XIX, Tabocas se constiuía dos conglomerados existentes na Fazenda
Caldeirão Sem Tampa (Bairro de Fátima), Burundanga (aeroporto),
Marimbêta (Bairro Conceição) e das construções existentes no local
aberto por Manoel Constantino, imediações da hoje Praça Olinto Leone,
formando a rua da Areia, o principal arruado e, inegavelmente, o ponto
de referência para Tabocas.
É evidende que o
surgimento de Itabuna, ateriormente Tabocas, a sua expansão, está
inteiramente ligada à própria expansão da cultura do cacau, fato que se
aprofunda a partir de meados da segunda metade do Século XIX, em que
pese a região ter sido explorada anteriormente. Inegavelmente, o salto
do progresso de Tabocas encontra consonância com a vinda de nordestinos
fugidos da seca e a perspectiva do encontro de terras aptas e devolutas,
o que ocorreu em toda região. No final do século, após a Guerra de
Canudos, contingentes desses desgraçados foram encaminhados por via das
facilidades governamentais para a região, parte dela acorrendo para
Tabocas (Costa, 1995). A este se agregam "os remanescentes das
fracassadas tentativas de colonização no Sul, de origem estrangeira...".
Essa incorporação da mão-de-obra,
permite a conclusão de um "vertiginoso crescimento" da população no eixo
Ilhéus-Itabuna, que varia de sete mil pessoas, em 1892 a 105 mil, em
1920 uma média atual de quase 7%, enquanto o Estado, em seus conjunto,
apenas se aproxima de 2%. Em muito auxilia o seu desenvolvimento (de
Itabuna) estar intimamente ligada ao fator comunicação. "Esta cidade
difere em muitos aspectos do centro portuário da zona cacaueira que é
Ilhéus. Muito mais jovem que esta não se arrastou por séculos sob o peso
da estagnação urbana e econômica. Surgiu quase no alvorecer do surto
cacaueiro em volta de posto comercial, fundado em 1873, e em pouco mais
de três décadas foi elevada à categoria de "cidade".
A chegada da estrada de
ferro em 1912 e a malha rodoviária feita construir pelo Instituto de
Cacau da Bahia, na década de 30, fizeram o município tornar-se o ponto
de convergência viária regional, o que muito contribuiu para o
vertiginoso avanço de seu comércio. "Leve-se em conta também que pela
sua posição lhe foi possível drenar a produção dos detentores das
melhores terras cacaueiras. E eram quase todas elas, até bem pouco
tempo, distritos de Ilhéus: Uruçuca, Itajuípe, Banco Central, Pimenteira,
Coaraci, União, Queimada, Barro Preto e Itapitanga".
Emancipação
administrativa
O crescimento de Tabocas
- motivado pelo ajuntamento de novos chegantes em busca de terras para
plantações de cacau e cereais, do comércio vigoroso, avançado sobre um
mercado consumidor crescente, ampliado pelo contigente de nordestinos
mandados trazer por Firmino Alves -, precipitou a discussão em torno da
participação política do lugar diante de Ilhéus, dado a sua importância.
Essas aspirações de autonomia motivaram o memorial assinado em 10 de
maio de 1897 por Henrique Berbet Junior, Manoel Misael da Silva Tavares,
Ramiro Lidefonso de Ararújo Castro, Plínio Cardoso do Nascimento, José
Fulgêncio Teixeira, Manoel Pereira Né, Henrique Felipe Wense, José
Nascimento Moreira, Domingos Pereira da Silva, Hermínio de Figueirêdo
Rocha, Pedro Prudente da Costa, Theodolino João Berbet e José Firmino
Alves solicitando ao Conselho de Ilhéus a sua autonomia e consequente
eleveção à categoria de vila. Apesar das razões o pedido foi indeferido.
Nove anos depois nova Mensagens, agora encabeçada por
Firmino Alves - que prometia doar os terrenos para os edifícios da
Intedência, cadeia, fórum e o que mais fosse necessário - foi
encaminhada diretamente ao governo do Estado, subscrita por um terço do
eleitorado, solicitando a criação do município, quando este já contava
com arrecadação superior a dez contos de réis e uma população estimada
em 10 mil habitantes. Atualmente a cidade não arrecada para pagar a
quantidade de secretarias, abertas para pagar promessas de campanha
eleitoreira de prefeitos, números enorme de vereadores e assessores,
esgotando todos os recursos financeiros da cidade.
A 4 de agosto de 1906, encaminharam um projeto
elevando o arraial de Tabocas à condição de vila. Em 13 de setembro do
mesmo ano a lei n°. 692, desmembrava do município de Ilhéus a Vila de
Tabocas, constituindo-a novo município e dando-lhe o nome de Itabuna, bem
como estabelecendo os seus limites. Precisamente a 23 de novembro foram
instalados a Vila e o Termo de Itabuna. A luta prosseguiu para
transformação da Vila em cidade e consequente desligamento da Comarca de
Ilhéus, o que veio a acontecer através da lei 807, de 28 de julho de 1910,
sancionada pelo Governador João Ferreira de Araújo Pinho. A instalação
ocorreu, solenemente, em 21 de agosto de 1910. Seu primeiro governante -
denominado então intendente -, foi o Engenheiro Olinto Batista Leone, que
assumiu em 1°. de janeiro de 1908.
O Poder Judiciário
Em 21 de agosto de 1915, por força da lei n°. 1.119,
que deu nova organização judiciária ao Estado da Bahia, Itabuna foi
elevada à categoria de Comarca de 1ª. entrância, tendo a instalação
ocorrido em 29 de setembro. Como primeiro juiz de Direito, Dr. Henrique
Auxêncio da Silva; como promotor público, Dr. Álvaro Magalhães Costa.
Os distritos
O município de Itabuna, conforme a divisão
administrativa de 1911 constituía-se de um distrito único, em sua área
original, de 4.031 Km2, aproximadamente. Em 1933 já era integrada dos
distritos de Itabuna, Conceição de Ferradas, Macuco e Palestina. O
decreto-lei n°. 10724, de 30 de março de 1938 ampliava as divisões
territoriais do município, criando os de Itapui, Itaúna e Jussari.
Finalmente, pelo decreto n°. 12.978, de 1°. de julho de 1944, passava a
subdividir-se em sete distritos: Itabuna , Buerarema (ex-macuco),
Ferradas, Ibicaraí (ex-Palestina), Itapé (ex-Itaúna) e Itororó (ex-Itapuí).
Essa divisão vigorou até 1952, quando ocorreu o primeiro desmembramento,
com a emancipação política de Ibicaraí, o que retirou de Itabuna uma
área de 1.300 Km2 e o distrito de Itororó. Limitava-se, à época da
emancipação, com os municípios de Ilhéus, Poções, Vitória da Conquista,
Canavieiras e Una.
A origem do nome Itabuna
Apesar de a estrutura etmológica ser encontrada nos
topônimos tupis ita (pedra) + aba (quebrar, truncar) + una (preto,preta)
- Ita + aba + una= pedras pretas truncadas ou partidas, ou simplesmente
pedras pretas partidas - todas as informações existentes, incluindo de
José Pereira da Costa, que esteve presente à reunião que discutiu o novo
nome para Tabocas, segundo revelou a José Dantas Andrade, o mesmo se
originara da seguinte discussão:
Em 1905 o assunto era a emancipação... uns queriam o
nome Firmino Alves, outros o de Henrique Alves e não chegavam a um
acordo. Nessas reuniões sempre surgia um engraçadinho que por troça ou
baderna sugeria o nome de um personagem popular, um tipo vulgar sem
expressão, como aconteceu com um deles, que lembrou o nome de "João
Culote" - tipo popular, analfabeto, cuja única qualidade boa que possuía
era guardar na memória todos os acontecimentos, daí porque lhe chamavam
de João Sabe tudo -, e outro o de Maria Buna, uma pobre lavadeira que
laborava em cima de uma pedra, no qual construiu uma pequena barraca
para o abrigo do sol. Essa última sugestão, embora extravagante, serviu
para lembrar o nome Itabuna, o qual por várias vezes havia sido
ventilado, por ser um dos nomes do 3°. Distrito de Ilhéus, ao qual
pertencia ao arraial de Tabocas: Cachoeira de Itabuna. Havia o desejo de
homens ilustres da época de substituir o nome Tabocas por um nome que
tivesse algum significado indígena, achando no entanto, que o nome de
Itabuna não possuía total significado, por conter apenas o topônimo ita,
que significava pedra, admitindo o restante (buna) por euforia.
Pode-se, entretanto, afirmar que a expressão Itabuna
se origina do tupi, segundo a análise manifesta acima, pela profa. Pondé
Sena, de Estudos Tupis, da UFBa.
Itabuna Cidade
A elevação de Itabuna à categoria de cidade, era,
desde muito tempo, desejada pelo povo desta comunidade. Graças a
iniciativa dos senadores Arlindo Leoni e Batista de Oliveira, alcançou
Itabuna essa glória pela lei n°. 807, de 28 de julho de 1910, a qual por
se constituir um documento de real importância, vai aqui transcrita na
integra:
Lei n°. 807, de 28 de julho de 1910.
Eleva a categoria de cidade a atual Vila de Itabuna, O
Governador do Estado da Bahia, faz saber que a Assembléia Geral
Legislativa decretou e eu sanciono a Lei seguinte:
Art. 1°. - Fica elevada à categoria de Cidade a atual
Vila de Itabuna, conservará o mesmo nome.
Revogam-se as disposições em contrário.
Palácio do Governo do Estado da Bahia, 28 de julho de
1910.
(Ass.) João Ferreira de Araújo Pinho - José Carlos
Junqueira Ayres de Almeida.
A Avenida Cinqüentenário
Ruas antigas de Itabuna são como páginas da sua
própria história, guardando lembranças dos fatos marcantes de nosso
passado. A Avenida do Cinquentenário é uma das mais ricas em
reminicências. Espinha dorsal da cidade, imponente e trepidante, lá
pelos idos de 1901 como simples picada avançada mato a dentro, partindo
da margem de um lagoa existente onde hoje é a Praça Adami, caminho
alternativo e seguro quando as enchentes do Cachoeira alagavam a Rua da
Areia, tranformando-se no melhor acesso para a sede do Conselho
Municipal que se localizava onde hoje é o prédio do Marabá. Pelo lado
oposto da lagoa em sentido inverso, já existia a Rua da Lama onde se
concentravam casas comercias, bares e escritórios de firmas compradoras
de cacau. Em 1904, quando Cel. Henrique Alves dos Reis assumiu a
liderança do grupo Adamista, logo procurou atender pleito dos
comerciantes mandando entulhar a lagoa, transformando o local na Praça
Adami. Em sua homenagem, os beneficiados mudaram o nome da Rua da Lama
para Henrique Alves.
Aos lados daquele caminho que adentrava a mata, já
agora a partir da nova praça, começou a surgir uma infinidade de
casebres. Em 1912, o Intendente Antônio Gonçalves Brandão resolveu
urbanizar a área, acabando com os casebres e fazendo trabalho de
entulhamento dos brejos existentes em seu percurso. Assim , transformou
aquilo em uma rua larga e calcetada. O povo batizou-a como a Rua do Buri,
em razão da enorme palmeira que teve de ser derrubada para não
prejudicar o traçado planejado. Essa rua começou a avançar cada vez mais,
surgindo construções de casas modernas, instalando-se pensões, depósitos
de cacau, armazéns e até algumas famosas casas de meretrício...
Anos depois, a rua Henrique Alves teve seu nome mudado
para J.J. Seabra em homenagem ao governador da Bahia e a rua do Buri,
numa festividade da independência do Brasil foi oficialmente batizada
como Sete de setembro. No dia 26 de junho de 1926 o então Intendente
Henrique Alves inaugurou um grande trecho em calçamento de pedras
irregulares, tendo por baixo as tubulações do sistema de esgoto geral do
centro da cidade. Foi orador oficial o farmacêutico Arthur Nilo Santana,
sendo a fita cortada por D. Odete Maron e Sr. João Rocha Franco. Passou
a ser "Avenida" e não mais simplesmente rua.
Enquanto a J.J. Seabra esbarra no prédio residencial
da família de Cel. Adolfo Maron, na Praça santo Antônio, a "Avenida"
Sete de Setembro avançava sempre, ganhado maior importância não só pelos
melhoramentos nela introduzidos pelo prefeito Francisco Ferreira da
Silva na década de 30 e Armando Freire na década de 40, como também pela
construção do Campo da Desportiva, surgido em área de sua fazenda cedida
pelo Cel. Berilo Guimarães.
A partir da década de 50, o prefeito Francisco
Ferreira, no seu segundo mandato, mandou elaborar plano para alargar a
avenida e troná-la principal Via de trânsito da cidade. Começaram aí os
trabalhos de corte e alargamento, sobretudo da rua J.J. Seabra que
permanecia estreita, guardando ainda as mesmas dimensões de quando era
Rua da Lama. Em 1959, tomou posse como prefeito José de Almeida
Alcântara e graças a sua tenacidade e determinação em pouco tempo a Rua
J.J. Seabra foi alargada, com o prosseguimento do recuo nos prédios
ainda fora de alinhamento. Retificada e reurbanizada em toda sua
extenção, a avenida Sete de Setembro fundiu-se com a Rua J.J. Seabra. Na
praça Santo Antonio, persistia a residência da família Adolfo Maron. O
prefeito Alcântara envidou todos os esforços, indenizou partes,
desapropriou glebas adjacentes, enfim, tanto lutou que conseguiu alongar
a Seabra fazendo seu encontro com o início da Avenida Juraci Magalhães,
saída principal para Ilhéus. No dia em que máquinas e operários
começaram a derrubar casas e cercas de quintais, ocorreu um grave
incidente entre Alcântara e um antigo morador do local, indo os dois às
vias de fato, cabendo ao deputado Paulo Nunes (adversário político do
prefeito) secundado por várias pessoas que estavam por perto, o
apaziguamento dos ânimos.
No dia 28 de julho de 1960, quando Itabuna comemorava
seus cinquenta anos de emancipação política, foi solenemente inaugurada
a Avenida do Cinquentenário, cuja festa contou com a presença do
governador Juracy Magalhães, vários Secretários do Estado, prefeitos
regionais, muitas autoridades outras, além da maior concentração de
público jamais vista na cidade. O discurso oficial de inauguração foi
proferido pelo General João de Almeida Freitas, por escolha pessoal do
prefeito Alcântara. Um grande desfile, com alegorias retratando a
história de Itabuna, constituiu-se no ponto alto das festividades.
O Rio Cachoeira
O Rio Cahoeira nasce nas fraldas da serra do Itaraca,
no município de Vitória da Conquista. Depois de banhar parte deste
município, entra em terras de Itambé, penetrando no município de Itabuna
com a denominação de "Colônia", nome que lhe deram os capuchinhos
italianos, quando por ali andaram, em meados do século XVIII, em missão
de catequese. Como o "Colonia", banha o atual município de Itajú antigo
distrito de Itabuna, e depois de receber as águas do "Salgado", o seu
mais importante afluente, pouco acima de Itapé, muda de nome, passando a
ser, "Cachoeira" até desaguar no Oceano Atlântico. Antes da entrada do
porto de Ilhéus, une-se aos rios "Santana e Fundão, formando a chamada 'Coroa
Grande".
Nesse percurso, da serra de Itaraca até o Oceano,
através mais de 300 quilometros, as suas águas regam uma das mais
importantes regiões da Bahia, sendo o fator principal para subsistência
de duas grandes riquezas do Estado: Cacau e pecuária. Curiosidade,
apesar de seu nome, o rio não possui ao longo do seu curso, nenhuma
cachoeira importante. Muitas ilhas, por outro lado, pontilhavam o seu
leito: Mutucuge, Marimbêta hoje a popular "Ilha do Jegue", Sequiero
Grande, Bananeiras, Sempre Viva, Quiricós e outras. De todas, existem
apenas vestígios.
O principal afluente do Cachoeira é o "Salgado", que
antes de lhe despejar suas águas tem a oportunidade de banhar terras de
Ibicaraí, Floresta Azul, Firmino Alves, Itororó e Santa Cruz da Vitória.
São ainda seus afluentes, "Piabanha", "Catolé", "Duas Barras", "Sucuriuba",
"Ponte", "Sapucaia", "Areia", "Primavera", "Jacarandá" e "Cachoeira", o
qual para alguns, passa por ter sido a origem do atual nome de Itabuna.
A história do Rio Cachoeira começa justamente onde termina seu curso: a
entrada do porto de Ilhéus. Ali, em 1535, suas águas foram testemunhas
da chegada de Francisco Romero, que vinha tomar posse das cinquenta
léguas de terras doadas por D. João III, pela Carta Régia de Portugal,
Jorge de Figueredo Correia e que se constituía na Capitania de S. Jorge
dos Ilhéus. Este rio assitiu e acompanhou, ainda, as lutas dos
donatários e ouvidores da capitania, contra os terríveis Aimorés,
Tupiniquins e Guerens, guradando na lembrança das suas águas os nomes de
Lucas Giraldes, D. Helena de Castro, Braz Fragoso, Vasco Fernandes
Coutinho, Antônio da Costa Camelo, Luiz Freire de Veras, Francisco Nunes
da Costa, Balthazar da Silva e outros. Em 1595, suas águas deram
passagem aos hereges franceses, que saquearam e devastaram a pequena
aldeia de Ilhéus. Mais tarde, abrigariam também os soldados da esquadra
do almirante Lichthardt, que desembarcaram no Pontal, fazendo dali a
cabeça de praia para o assalto e saque de Ilhéus. Em ambas as invasões,
os estrangeiros foram heroicamente repelidos pelos poucos habitantes da
Vila, com intercessão da Virgem Maria, originando-se daí a lenda e culto
de N.S das Vitórias. Segundo o Dr. Francisco Borges de Barros, no livro
"Memórias do Município de Ilhéus", edição de 1915, foi em 1553 que
tiveram início as explorações nas margens do Cachoeira.
Apenas uma parte, a que era navegável, ou seja o
trecho entre Ilhéus e Banco da Vitória, era conhecida e explorada. Já
nesse tempo, o Padre Luiz Soares de Araújo, referindo-se ao rio escrevia:
"Caudaloso rio chamado o da Cachoeira da Vila, capaz de navegar sumacas,
barcos, lanchas e canoas; não há quem lhe saiba o seu princípio, por vir
muito de dentro do Sertão e que todos afirmam que vem das minas...". A
incumbencia de exploração e catequese nas margens do Cachoeira coube ao
Padre Manoel da Nóbrega, juntamente com os catequistas Francisco Pires,
Aspicuelta Navarro, Manoel Chaves e outros. Os trabalhos dos jesuítas se
desenvolveram mais para as regiões de Porto Seguro, Itacaré, "Boipeba",
Cairú e Canavieiras, mas alguns deles se ocuparam dos índios que viviam
nas margens do rio, no seu referido trecho navegável.
Mais tarde, 1570, durante a época das "bandeiras", uma
dessas expedições chefiada por Martins Carvalho, penetrou pelas margens
do rio indo até a um ponto além do Banco da Vitória. Um personagem de
destaque nas expedições ao longo das margens do Cachoeira foi o capitão
português João Gonçalves da Costa. Contam-se várias histórias a respeito
da ação devastadora contra os índios, destacando a sua crueldade contra
os mesmos, a ponto de A. de Saint Hilare, no seu relatório "Voyage ou
Perou, "assim se expressar: "o quadro de destruição e atos de selvageria
praticados por João Gonçalves da Costa, contra os fracos restos de
índios das margens do Cachoeira e Rio de Contas, desafia ao mesmo tempo
a sensibilidade do homem de coração bem formado".
Em "Capitania de São Jorge dos Ilhéus", o Dr. João da
Silva Campos registra também a ação devastadora praticada contra os
índios guerens pelos paulistas, chefiados por João Amaro, espcialmente
contratados pelo governador da Província, Afonso Furtado de Mendonça.
Muito sangue, muita crueldade e as vidas de milhares de índios foi o
preço da conquista e exploração das margens do Cachoeira. No princípio
do século XVIII, os frades capuchinhos deram início e catequese dos
poucos índios que sobreviveram as carnificinas de João Gonçalves e João
Amaro. Do trabalho catequético desses piedosos e bravos frades, foram
surgindo ao longo do curso do Rio Cachoeira, aldeias, povoados, colonias
e missões, entre estas: Banco da Vitória, Cachoeira de Itabuna, Ferradas,
Cachimbos, Catolé e outras.
Uma destas povoações
muito progrediu, foi a de Cachoeira de Itabuna, no tempo de Weyll e
Samaraker, colonos estranfeiros que fundaram ali nas margens do
Cachoeira e seu afluente "Itaúna", uma colonia que ficou muito afamada
pelo desenvolvimento da cultura de cana de açúcar, arroz, cacau e fumo,
produtos que chegaram a ganhar medalhas de ouro nas exposições de Viena,
Turim e na Côrte do Brasil. Também a povoação do Banco da Vitória
conheceu um surto de progresso, servindo como nosso primeiro porto
fluvial.
Entre os muitos que
morreram afogados nas águas do Cachoeira, um deles ficou na história,
foi o nober frade capuchinho Luiz de Grava, no dia 19 de abril de 1875,
quando viajava de canoa com destino ao arraial de Tabocas. Entre as
Ilhas formadas pelo Cachoeira, uma delas tem uma história muito nossa
conhecida. É a Ilha do Jegue, que já se chamou "Ilha da Marimbeta", "Ilha
do Temístocles" e "Ilha do capitão Aristeu", porque ela foi testemunha
da chegada de Félix Severino e Manoel Cosntantino, pioneiros da corrente
migratória sergipana rumo a Itabuna, ouvindo bem próximo de si o barulho
da derruba da primeira árvore que serviu de marco de uma cidade que
cresceu com o tempo e se transformou na grande e bela cidade de Itabuna.
Em 1914, registra-se a
primeira grande enchente do rio Cachoeira. Fortes chuvas desabaram-se
sobre a região, durante 11 dias, resultando num alagamento geral e
destruição de tudo que existia próximo às suas margens, sofrendo com
isso Itabuna, que começava a surgir, a perda de suas primeira ruas. Foi
a maior enchente até poucos dias. Muitas e muitas enchentes seguiram-se
a esta, uma delas entretando ficou famosa: a de 1920, porque batizou a
nossa falada ilha. A "Ilha do Capitão Aristeu", passou a ser chamada "Ilha
do Jegue". Um jumento ficara preso na dita Ilha, sendo alvo de compaixão
e curiosidade públicas, durante 4 dias, sendo salvo depois que as águas
baixaram e recebido por uma grande multidão que lhe deu as honras de um
"herói".
Em 1947, a ponte Lacerda,
recém-construída, serviu de barragem para a grande quantidade de "baronesa",
capim "amazonas" e outros vegetais que o rio transportava. As águas
represadas invadiram as partes mais baixas da cidade. Foi grande a
destruição na Mangabinha, Burundanga, Bananeira, Berilo e outros bairros
ribeirinhos. Em 1964, novamente as águas do Cachoeira estiveram em fase
de enchente, voltando a causar prejuízos nos mesmos lugares
anteriormente atingidos. Um ano depois ou seja em 1965, mês de novembro,
o Cachoeira pegava novamente Itabuna, chegando a alagar a Avenida do
Cinquentenário. Foram grandes os prejuízos. Por último, dezembro de
1967, segundo registros históricos, muito superior a todas as enchentes,
foi esta última cujos efeitos ainda estão bem vivos na memória de todos.
FONTES:
Itabuna em números (1996) - Texto de Adylson Machado
e Documentário Histórico Ilustrado de Itabuna - Por José Dantas de
Andrade (Dantinhas)
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