O manganês do Amapá foi descoberto em 1946, na Serra do Navio. O governo
federal, após constatar a importância da jazida, declarou-a reserva
nacional, através do decreto-lei nº 9.858, de 13 de setembro de 1946 (três
anos após a criação do Território do Amapá), incumbindo a administração
territorial de proceder ao imediato estudo do seu aproveitamento e
autorizando-a a contratar uma entidade particular ou de economia mista para
a exploração. Com base no mesmo decreto, o Conselho Nacional de Minas e
Metalurgia procedeu concorrência pública para a exploração do minério. A
Icomi, dentre três concorrentes, foi declarada vencedora.
As cláusulas contratuais que regeriam os direitos e obrigações relacionadas
com o aproveitamento do manganês de Serra do Navio foram aprovadas pelo
decreto federal nº 24.156 de 4 de dezembro de 1947 e revistas pelo de nº
28.162 de 31 de maio de 1950. O respectivo instrumento de revisão do
contrato – escritura pública de 6 de junho de 1950 firmado entre o governo
do Território do Amapá, na qualidade de delegado da União, e a Indústria e
Comércio de Minérios (Icomi), foi registrado no Tribunal de Contas da União,
e ratificado pelo Congresso Nacional, pela Lei nº 1235 de 14 de novembro do
mesmo ano.
Em 25 de fevereiro de 1953, o presidente da República, em despacho exarado
em exposição do ministro da Fazenda, a propósito da obtenção de
financiamento para a execução do projeto de aproveitamento das mencionadas
jazidas, declarou-o economicamente vantajoso do ponto de vista nacional.
A 8 de junho do mesmo ano, em decorrência da tramitação do registro do
contrato de concessão da Estrada de Ferro do Amapá, no Tribunal de Contas da
União, pronunciou-se o Conselho de Segurança Nacional unanimemente favorável
ao projeto, cuja execução seria iniciada em janeiro de 1954, inaugurando-se
em janeiro de 1957, praticamente dez anos após os primeiros estudos e
trabalhos realizados pela Icomi no Amapá, as instalações industriais que
possibilitariam o escoamento do minério para os centros consumidores.
Half Medelin
Mexicano, naturalizado americano, foi um dos técnicos em construção de
ferrovias que viajou juntamente com a primeira equipe de técnicos para
iniciar a primeira e única estrada de ferro do Território. Half Medelin, que
já ultrapassou os 70 anos de idade.
A construção da ferrovia iniciou em março de 1954 e foi concluída em janeiro
de 1957, quase três anos depois.
Primeiro Embarque
No dia 10 de janeiro de 1957, com a presença do presidente Juscelino
Kubitschek, saiu o primeiro carregamento de manganês no navio Areti-XS –
Baltimore, que havia chegado no dia 9 e saiu no dia seguinte, levando
9.050,05 toneladas de manganês do Porto de Santana. Medelin explicou que
simultaneamente à construção da ferrovia, outra equipe erguia os prédios
administrativos, casa de hospedes, hospital, escola, instalação da mina e
montagem do equipamento de mineração.
Cotidiano
A partir da construção da ferrovia, várias comunidades começaram a
surgir em função da existência do novo transporte. Ele conta que em 64 todos
os americanos retornaram. Em 72 recebeu uma correspondência do assistente do
diretor na época, Antônio Seara, e de outro diretor, Osvaldo Pessoa,
convidando-o a retornar à Icomi. Na empresa ocupou os cargos de chefe da
manutenção da Estrada de Ferro, chefe do Departamento, também da Estação
Ferroviária, e chegou a superintendente.
A viagem de trem, nos seus 193,73 quilômetros, ainda lembra o clima dos
filmes de bang-bang: bandidos, mocinhos, cavalos e muita ação. Os
passageiros começaram a chegar bem cedo na estação ferroviária em Santana
para assegurar sua vaga. Redes, camas improvisadas e muita carga se misturam
na madrugada. Colonos aproveitam para colocar em dias o papo; comerciantes
fazem negócios e outros simplesmente contam "causos" ou vantagens.
O trem partia de Santana às 7 horas e retornava às 14 horas de Serra do
Navio todas as segundas, terças e quintas-feiras. Na sexta, para facilitar o
retorno dos colonos que desciam na quinta, a saída foi alterada para as
12h30. Além disso, eram três vagões de minérios por dia, que transportavam
anualmente até 1,6 milhão de toneladas de manganês.
Viagem fantástica
Durante o trajeto que vai de Santana a Serra do Navio, são atravessados
cinco cursos de água por meio de pontes, a maior das quais cruza, com quase
220 metros, o rio Amaparí. Ainda hoje, durante as paradas nas estações, são
feitas as colheitas das produções agrícolas das regiões, quase que num
sistema de trocas de mercadorias entre as comunidades. O mais curioso dessas
viagens é que durante as paradas os responsáveis pelo vagão de cargas,
Clodovil Souza Silva, apenas com um código muito pessoal, consegue
despachar, sem nenhuma identificação, todas as cargas aos seus respectivos
donos sem que alguma vez tivesse cometido algum engano.
Clodovil Silva, que trabalhava há décadas na empresa, além de responsável
pelas cargas, servia também como o comunicador e o elo mais confiável entre
as comunidades. Reportagem de
EDGAR RODRIGUES |