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Um "pirata" de apetite insaciável (Orcinus orca)

A orca ou baleia assassina é o membro de maior porte da família Delphinidae (ordem dos cetáceos) e um predador versátil, podendo comer peixes, moluscos, aves, tartarugas, ainda que, caçando em grupo, consigam capturar presas de tamanho maior, incluindo morsas e outras "baleias".

Apesar da designação baleia assassina, não é, na verdade, uma baleia mas sim um golfinho. O nome provém da alteração da expressão "assassina de baleias" já que caçam outros cetáceos jovens. Está, portanto, no da cadeia alimentar oceânica. Pode chegar a pesar nove toneladas. É o segundo animal de maior área de distribuição geográfica (logo a seguir ao homem), podendo encontrar-se em qualquer um dos oceanos.

Têm uma vida social complexa, baseada na formação e manutenção de grupos familiares extensos.


Orca selvagem com seu filhote, é carinhosa e protetora, como qualquer mãe humana.

Comunicam através de sons e costumam viajar em formações que assomam ocasionalmente à superfície. A primeira descrição da espécie foi feita por Plínio, o Velho que já a descrevia como um monstro marítimo feroz. Contudo, não se tem conhecimento de ataques a seres humanos no ambiente selvagem, ainda que se saiba de alguns casos de agressões aos seus treinadores em parques temáticos.

Tanto vivem no mar alto como junto ao litoral

O nome orca foi dado a estes animais pelos antigos romanos, em princípio, derivado da palavra grega que (entre outros significados) se referia a uma espécie de baleia.

"Baleia assassina" é outro dos nomes mais vulgares. Contudo, desde a década de 1960, a comunidade científica (principalmente a anglófona) passou, de novo, a utilizar mais frequentemente "orca", que apesar de ter origem "erudita" foi rapidamente aceita pela população em geral que foi adotando cada vez mais o termo. As razões para esta mudança de nomenclatura popular também está ligada ao fato de os leigos terem começado a interessar-se mais pela espécie, aprendendo, por exemplo, que este animal não é, de fato, uma baleia, mas sim um golfinho.

A palavra orca era já comum noutras línguas européias - o aumento de pesquisas científicas sobre a espécie ajudou também a criar uma certa convergência na forma de nomear este cetáceo. Outra razão relaciona-se com o adjetivo "assassina" que parece ter implícita a ideia errônea de que seria letal para os seres humanos. Orca é, quanto a isso, uma opção vocabular mais neutral.

Um grupo de orcas pode, de fato, matar uma grande baleia. Pensa-se que os marinheiros espanhóis do século XVIII designaram estes animais de assassinas de baleias por esta razão. O termo foi, depois, mal traduzido para inglês como "killer whale" - designação imprópria, mas que se tornou tão frequente que os próprios espanhóis (e portugueses) adataram a "retradução".

A orca é a única espécie do género Orcinus. É uma das trinta e cinco espécies da família dos golfinhos. Tal como o género Physeter, também com apenas uma espécie (o cachalote), o género Orcinus caracteriza-se por um população abundante sem parentes imediatos do ponto de vista da cladística.

Os paleontólogos acreditam que a orca pode ter tido, provavelmente, um passado evolucionário anagenético; isto é, uma evolução de ancestral para descendente sem se verificar qualquer ramificação da linha genética (formação de espécies aparentadas, coexistindo no tempo). Se assim fosse, a orca passaria a ser uma das mais antigas espécies de golfinhos, ainda que seja pouco provável que seja tão antiga quanto a própria família, cujo início é datado em cerca de cinco milhões de anos.

Estes animais caracterizam-se por terem o dorso negro e a zona ventral branca. Têm ainda manchas brancas na parte lateral posterior do corpo, bem como acima e detrás dos olhos. Com um corpo pesado e entroncado, têm a maior barbatana dorsal do Reino animal, que pode medir até 1,8 metros de altura (maior e mais ereta nos machos que nas fêmeas). Os machos podem medir até 9,5 metros de comprimento e pesar até 6 toneladas; as fêmeas são menores, chegando aos 8,5 metros e 5 toneladas, respectivamente. As crias nascem com cerca de 180 Kg e medem cerca de 2,4 metros de comprimento.

As orcas macho de maiores dimensões têm um aspecto distinto que não dá margem para confusões ao serem identificados. Contudo, vistas à distância em águas temperadas, as fêmeas e as crias podem confundir-se com outras espécies, como a Falsa-orca ou o Golfinho-de-Risso.

A maior parte dos dados sobre a vida das orcas foi obtida em pesquisas de longa duração com populações da costa da Columbia Britânica e de Washington, bem como pela observação de animais em cativeiro.

A informação disponível sobre esta espécie é avultada e está devidamente sistematizada pelos naturalistas, o que se deve também à natureza altamente estruturada dos grupos sociais destes animais. Contudo, grupos transitórios ou residentes noutras áreas geográficas podem ter características ligeiramente diferentes.

As fêmeas atingem a maturidade sexual aos 15 anos de idade. A partir dessa altura, têm períodos de ciclo poliestral (cio regular e contínuo) com períodos sem o ciclo estral que podem durar de três a dezesseis meses. As fêmeas podem dar à luz uma só cria, uma vez cada cinco anos. Nos grupos sociais analisados, os nascimentos podem ocorrer em qualquer época do ano, havendo uma certa preferência pelo inverno.

A mortalidade dos recém-nascidos é elevada - os resultados de uma investigação sugerem que cerca de metade das crias morrem antes de atingir os seis meses. Os filhotes são amamentados até aos dois anos de idade, mas com doze meses já se alimentam de comida sólida. As fêmeas são férteis até aos 40 anos, o que, em média, significa que podem ter até cinco crias. A esperança de vida das fêmeas é, geralmente, de cinquenta anos, ainda que em casos excepcionais possam viver até aos noventa anos.

Os machos tornam-se sexualmente ativos com 15 anos de idade e chegam a viver até aos 30 anos (ou até aos 50, em casos excepcionais. A orca é o segundo mamífero com maior área de distribuição geográfica no planeta, logo a seguir ao ser humano.

Encontram-se em todos os oceanos e na maior parte dos mares, incluindo (o que é raro, para os cetáceos) o mar Mediterrâneo e o mar da Arábia. As águas mais frias das regiões temperadas e das regiões polares são, contudo, preferidas. Ainda que se encontrem por vezes em águas profundas, as áreas costeiras são geralmente preferidas aos ambientes pelágicos. Existem populações de orcas particularmente concentradas na zona nordeste da Bacia do Pacífico, onde o Canadá faz curva com o Alasca, ao longo da costa da Islândia e na costa setentrional da Noruega. São frequentemente avistadas nas águas antárticas, acima do limite das calotas polares.

De fato, crê-se que se aventuram abaixo da calota de gelo, sobrevivendo apenas com o ar presente em bolsas de ar situadas abaixo do gelo, tal como faz a beluga. No Ártico, contudo, a espécie é raramente avistada no inverno, não se aproximando da calota polar, visitando estas águas apenas no verão.

A informação sobre outras regiões é escassa. Não existe uma estimativa para a população global total. Estimativas locais indicam cerca de 70 a 80 000 na Antártida; 8 000 no Pacífico tropical (ainda que as águas tropicais não sejam o ambiente preferido destes animais, a grande dimensão desta área oceânica - 19 milhões de quilômetros quadrados - significa que poderão aí viver milhares de orcas); cerca de 2 000 junto ao Japão; 1 500 nas águas mais frias do nordeste do Pacífico e 1 500 junto à Noruega.

Se juntarmos os dados de estimativas menos precisas sobre áreas menos investigadas, a população total poderá ascender aos 100 000.As orcas têm um sistema social de agrupamento bastante complexo. A unidade básica é a linha matriarcal que consiste numa única fêmea, mais velha, e os seus descendentes.

Os filhos e filhas da matriarca fazem parte desta linha, tal como os filhos e filhas destas últimas filhas - contudo, os filhos e filhas de qualquer um dos filhos passarão a viver com a linha matriarcal das suas companheiras de acasalamento) - e assim sucessivamente, ao longo da árvore genealógica destes animais. Como as fêmeas podem viver até cerca de noventa anos, não é raro encontrar quatro ou mesmo cinco gerações de orcas a viver na mesma linha. Estes grupos matrilineares são muito estáveis e mantêm-se durante anos.
 
Os seus elementos apenas os abandonam, nunca mais de algumas horas, com o fim de procurar alimento ou acasalar. Não há registro de nenhuma expulsão de um indivíduo destes grupos. O tamanho médio de uma linha matriarcal é de cerca de nove animais, segundo as estatísticas efetuadas junto às orcas do Pacífico nordeste.

As linhas matriarcais têm alguma tendência a juntarem-se a outras, de forma a constituírem grupos (em inglês utiliza-se o substantivo coletivo "pod" que não tem correspondente em português, para conjunto de "baleias", a não ser a palavra "baleal", proposta pelo dicionário Houaiss, que, na falta de outro termo - já que cardume, ou mesmo manada, apesar de também serem usados, parecem ainda mais impróprios - será usado neste artigo, tendo em conta, contudo, que as orcas não são baleias) que têm, em média, cerca de 18 indivíduos. Os membros de um "baleal" partilham do mesmo dialeto (os sons distintivos da espécie), havendo indícios de que são todos aparentados pelo lado materno. Ao contrário das linhas matriarcais, os baleais podem separar-se nas linhas que os constituem por vários dias ou semanas, em busca de comida, até voltarem a juntar-se. O maior baleal registrado tinha 49 membros.

O próximo nível de organização dos grupos de orcas é o "clã", que consiste na reunião dos vários baleais com dialetos semelhantes. Novamente, verifica-se que as relações entre os vários baleais têm um fundamento genealógico, por linha materna. Vários clãs podem partilhar a mesma área geográfica. Há registro de baleais de clãs diferentes viajando em conjunto. Quando baleais residentes se juntam para viajarem como um clã, há um ritual de reconhecimento, com saudações que consistem em colocarem-se em linhas paralelas semelhantes, antes de se misturarem por completo.
O último nível de associação é a comunidade que pode ser definida, vagamente, como o conjunto de clãs que se unem regularmente. As comunidades não partilham, contudo, quaisquer padrões familiares vocais discerníveis.

No nordeste do Pacífico conseguiu-se identificar três comunidades:
A comunidade meridional (1 clã, 3 baleais e 83 orcas em 2000)
A comunidade setentrional (3 clãs, 16 baleais e 214 orcas em 2000)
A comunidade do Sul do Alasca (2 clãs, 11 baleais e 211 orcas em 2000)
Deve-se enfatizar que estas hierarquias são apenas válidas para grupos sedentários ou residentes. Grupos nômades, caçadores de mamíferos, são, na generalidade, menores porque, ainda que se baseiem em linhas matriarcais, nota-se uma maior tendência dos machos para levarem uma vida isolada. Contudo, grupos nômades mantém uma vaga coesão definida pelos seus dialetos.
O comportamento cotidiano das orcas é, geralmente, dividido em quatro atividades básicas: busca de alimento, viagem, descanso e socialização.

Esta última costuma ser acompanhada de comportamentos entusiásticos, exibindo vários tipos de saltos e arremessos do corpo, espreita delas sobre a água, além de baterem com as barbatanas na água e erguerem a cabeça. grupos constituídos apenas por machos interagem, freqüentemente, com os pênis eretos. Não se sabe se este gênero de interação é um comportamento apenas lúdico ou se comporta manifestações de afirmação de papéis de dominação.As orcas utilizam na sua alimentação uma grande diversidade de presas diferentes.

Populações específicas têm tendência a especializar-se em presas específicas, mesmo com o prejuízo de ignorarem outras presas em potência. Por exemplo, algumas populações do mar da Noruega e da Groenlândia são especializadas no arenque, seguindo as rotas migratórias deste peixe até à costa norueguesa, em cada outono. Outras populações preferem caçar focas.
A orca é o único cetáceo que caça regularmente outros cetáceos.

Há registros de vinte e duas espécies de cetáceos caçadas por orcas, seja pelo exame do conteúdo do estômago, seja pela observação das cicatrizes no corpo de outros cetáceos ou, simplesmente, pela observação do seu comportamento alimentar. Baleais de orcas chegaram mesmo a atacar baleias comuns, baleias-de-minke, baleias-cinzentas ou, mesmo, jovens baleias-azuis. Neste último caso, os grupos de orcas perseguem a cria de baleia azul, em conjunto com a sua mãe, até ao esgotamento de ambas. Por vezes conseguem separar o par. De seguida, rodeiam a jovem baleia, impedindo-a de subir à superfície onde esta precisa de tomar ar para respirar. Assim que a cria morre afogada, as orcas podem alimentar-se sem problemas.

Há também um caso registrado de provável canibalismo. Um estudo levado a cabo por V. I. Shevchenko nas áreas temperadas do Sul do Pacífico em 1975 registrou a existência de restos de outras orcas no estômago de dois machos. Das 30 orcas capturadas e examinadas nesta pesquisa, 11 tinham o estômago completamente vazio. Uma percentagem invulgarmente alta que indicia que o canibalismo foi forçado, devido à falta extrema de alimento.

Mais frequentemente, contudo, as orcas predam cerca de 30 espécies diferentes de peixes, nomeadamente o salmão (incluindo salmão-real e salmão-prateado), arenques e atum. O tubarão-frade, o tubarão-galha-branca-oceânico e, muito ocasionalmente, o tubarão-branco, são também caçados pelos seus fígados altamente nutritivos, acreditando-se também que são caçados no sentido de eliminar ao máximo a competição.

Outros mamíferos marinhos, incluindo várias espécies de focas e leões marinhos são também procurados pelas populações que vivem nas regiões polares. Morsas ou lontras marinhas são também caçadas, mas menos frequentemente. A sua dieta inclui ainda sete espécies de aves, incluindo todas as espécies de pinguins ou aves marinhas, como os corvos-marinhos. Alimentam-se também de cefalópodes, como o polvo ou lulas.

As orcas são muito inventivas, e de uma crueldade brincalhona impressionante nas suas matanças. Por vezes, atiram focas umas contra as outras, pelo ar, de modo a atordoá-las e matá-las. Enquanto que os salmões são, geralmente, caçados por uma orca isolada ou por pequenos grupos, os arenque são muitas vezes apanhados pela técnica da captura em carrossel: as orcas forçam os arenques a concentrarem-se numa bola apertada, cercando-os e assustando-os soltando bolhas de ar ou encandeando-os com o seu ventre branco.

As orcas batem, então, com os lobos da cauda sobre o grupo arrebanhado, atordoando ou matando cerca de 10 a 15 arenques com cada pancada. A captura em carrossel só foi documentada na população masculina de baleias assassinas de Tysfjord (Noruega) e no caso de algumas espécies oceânicas de golfinhos. Os leões marinhos são mortos por golpes de cabeça ou pancadas com os lobos da cauda.

Outras técnicas mais especializadas são utilizadas por várias populações no mundo. Na Patagônia, as orcas alimentam-se de leões marinhos dos sul e crias de elefantes marinhos, forçando as presas a dar à costa, mesmo correndo o risco de elas mesmas ficarem, temporariamente, em terra. As orcas observam o que se passa à superfície, através de um comportamento designado de spyhopping, que lhes permite localizar focas a descansar sobre massas de gelo flutuante. A técnica consiste em criar uma onda que obrigue o animal a cair à água, onde outra orca o espera, para o matar.

Em média, uma orca come cerca de 60 kg de comida por dia. Com uma tal variedade de presas e sem outros predadores que não o homem, é um animal bem no na cadeia alimentar.Tal como os outros golfinhos, as orcas são animais com um comportamento vocal complexo. Produzem uma grande variedade de estalidos e assobios usados em comunicação e ecolocalização. Os tipos de vocalização variam com o tipo de atividade. Naturalmente que, enquanto descansam, emitem menos sons, ainda que façam ocasionalmente um chamamento bem distinto daqueles que usam num comportamento mais ativo.

Os baleais sedentários têm uma maior tendência para a vocalização que os grupos nômades. Os cientistas indicam duas razões principais para este fato. Em primeiro lugar, as orcas residentes mantêm-se no mesmo grupo social por muito mais tempo, desenvolvendo, assim, relações sociais mais complexas - o que implica também um maior desenvolvimento local e uma maior partilha de sons próprios do grupo.

Os grupos nômades, como ficam juntos por períodos mais passageiros (algumas horas ou dias), comunicam também menos. Em segundo lugar, as orcas nômades têm maior tendência para se alimentarem de mamíferos, ao contrário das orcas residentes, que preferem peixes. As orcas predadoras de mamíferos necessitam, naturalmente, de passar despercebidas pelos animais que pretendem apanhar de surpresa. Usam por isso, apenas estalidos isolados (o chamado "estalido críptico") para ecolocalização, em vez da longa série de estalidos observada noutras espécies.

Os grupos residentes apresentam dialetos regionais. Cada baleal tem as suas próprias "canções" ou conjuntos de assobios e estalidos que são constantemente repetidos. Cada membro do baleal parece conhecer todo o repertório do grupo, de forma que não é possível identificar especificamente um animal apenas pela sua voz - é apenas possível identificar o grupo dialetal. Uma canção pode ser específica de um grupo ou partilhada por vários.

O grau de semelhança nas vocalizações de dois grupos distintos parece estar mais relacionada com a proximidade genealógica dos dois grupos que com a proximidade geográfica. Dois grupos que partilhem um conjunto de ancestrais comuns mas que vivam em locais distantes continuarão a ter um repertório de canções muito semelhante. Isto sugere que as canções passem de mãe para filho durante o período de amamentação.Ainda que só tenham sido classificadas como espécie em 1758, a orca já era conhecida pelo ser humano desde tempos pré-históricos. A cultura desértica de Nazca foi responsável pela representação de uma orca, desenhada pelas famosas linhas de Nazca, numa data indeterminada entre 200 a.C. de 600 d. C.

A primeira descrição escrita de uma orca foi da autoria de Plínio, o Velho, na sua História Natural, escrita cerca de 50 a.C.. A aura de invencibilidade, ligada a uma imagem voraz da orca, estava já bem estabelecida por esta altura. Ao assistir à matança pública de uma baleia encalhada no porto de Roma, Plínio escreveu: "As orcas (cuja aparência não há imagem que consiga expressar, não era mais quem uma enorme massa de carne selvagem com dentes) são inimigas das outras baleias... Atacam-nas e rasgam-lhes a carne como navios de guerra em golpes bélicos."

Tribos aborígines do Noroeste do Pacífico da América do Norte, como a Tlingit, Haida, e Tsimshian destacam com frequência a orca na sua religião e artesanato. As orcas tornaram-se alvo da caça à baleia comercial a partir de meados do século XX devido ao esgotamento das reservas de espécies de maior porte. Esta atividade teve um final abrupto em 1981 com a implementação de uma moratória internacional sobre a caça à baleia.

Ainda que de um ponto de vista taxonômico a orca seja mais um golfinho que uma baleia, o seu tamanho justifica a sua inclusão entre as espécies protegidas pela Comissão internacional para a caça da baleia. O país que mais orcas caçava era a Noruega que capturou, em média, 56 animais por ano, de 1938 a 1981.

O Japão capturou, também em média, 43 baleias assassinas por ano, de 1946 a 1981. (não há dados fiáveis sobre os anos de guerra, mas supõe-se que tenham sido caçados menos exemplares). A União Soviética caçava uma pequena quantidade de animais todos os anos no Antártico, à exceção de uma época extraordinária de caça, ocorrida em 1980, durante a qual se capturaram 916 orcas.

Hoje em dia, não é realizada caça substancial à espécie. O Japão captura alguns indivíduos quase todos os anos, no âmbito de um programa de "pesquisa científica" controverso. É prosseguido um nível de captura igualmente baixo pela Indonésia e Groenlândia. Além de caçadas para servirem de alimento humano, as orcas são também mortas porque alguns defendem que entram em competição com os pescadores.

Na década de 1950, a Força Aérea dos Estados Unidos da América, a pedido do Governo da Islândia, usou bombas e armas de fogo na chacina de grupos de orcas nas águas da Islândia, sob esse mesmo pretexto. A operação foi considerada um êxito pelos pescadores e pelo governo islandês. Opositores desta medida, contudo, afirmaram que a queda nas reservas de peixe se deve à pesca excessiva por parte do ser humano. Este debate continua sem que cada parte aceite ceder terreno à outra.

As orcas são ainda, ocasionalmente, mortas devido ao medo que a sua reputação provoca. Ainda que nenhum ser humano tenha sido atacado por uma orca em liberdade, os marinheiros do Alasca matam-nas com o intuito de protegerem-se. Este medo tem vindo a ser dissipado nos últimos anos devido a uma melhor informação das populações em relação à espécie, além da popularidade que estes animais têm em aquários e outras atrações turísticas afins.

A inteligência das orcas, a facilidade em treiná-las, a sua aparência impressionante, o seu comportamento brincalhão em cativeiro e o seu tamanho anormalmente grande torna-as um animal bastante popular como exibição em aquários e em espetáculos aquáticos, como em parques temáticos.

A primeira captura e exibição de uma orca teve lugar em Vancouver, em 1964. Nos 15 anos seguintes, cerca de sessenta ou setenta orcas foram retiradas das águas do Pacífico com este fim. No final dos anos 70, e na primeira metade da década de 1980, as águas da Islândia eram a origem de muitos dos animais capturados - nos cinco anos antes de 1985, capturaram-se aí 50 orcas.

Desde essa altura que as orcas são criadas desde nascença em cativeiro, sendo raras os espécimes selvagens nestas condições. O cativeiro pode, contudo, levar ao desenvolvimento de determinadas patologias como o colapso da barbatana dorsal, verificada em 60 a 90% dos machos cativos. Já ocorreram alguns ataques ou acidentes com orcas em cativeiro, envolvendo seres humanos.

Em 1991, um grupo de orcas foi responsável pela morte de uma treinadora, Keltie Byrne, em Sealand, Victoria, na Colúmbia Britânica (onde os empregados não estavam autorizados a permanecer na água com as orcas). Crê-se que esta morte tenha sido provocada pelo facto de as orcas não se aperceberem que o ser humano não é capaz de sobreviver debaixo de água, pelo que se julga que se trata apenas de um comportamento brincalhão, mas trágico.

O mesmo se acredita que tenha acontecido em 1999, no parque SeaWorld em Orlando, Florida, onde uma orca terá alegadamente matado um turista que entrou de forma sub-reptícia na piscina, durante a noite. Há quem acredite que o mesmo possa ter morrido de hipotermia. No final de Julho de 2004, durante um espetáculo no parque SeaWorld, em San Antonio, Texas, uma orca empurrou o seu instrutor (depois de dez anos de convívio entre os dois) para debaixo de água, impedindo-o de atingir a borda da piscina. Só depois alguns minutos de angústia é que os seus colegas o conseguiram salvar.

Outro incidente trágico envolvendo orcas ocorreu em Agosto de 1989, quando uma fêmea dominante, Kandu V, se atirou a uma orca recém-chegada, Corky II, mordendo-a durante um espetáculo aquático. Corky II tinha sido trazida da Marineworld, na Califórnia apenas alguns meses antes do acidente. De acordo com testemunhos, ouviu-se uma dentada sonora ao longo do estádio. Ainda que os treinadores tenham tentado continuar o espetáculo, a dentada provocou a fragmentação do maxilar da orca atacante, provocando o corte de uma artéria que começou a jorrar sangue. Depois de evacuada a multidão de espectadores e depois de uma hemorragia de cerca de 45 minutos, Kandu V morreu. Os opositores deste gênero de espetáculo referem frequentemente estes incidentes nas suas críticas e argumentos para a sua abolição.

A SeaWorld continuou implicada em várias práticas criticadas por movimentos a favor dos direitos dos animais, como a manutenção de orcas capturadas no meio selvagem. A associação Born Free Foundation criticou este empreendimento por manter em cativeiro, após vários anos, a orca Corky II, que queriam devolver à sua família no grupo (baleal) A5 Pod — na Colúmbia Britânica, no Canadá.Até ao final da década de 1970 que as orcas eram apresentadas de forma negativa na ficção, como predadores ferozes que os heróis da história tinham de enfrentar para salvar as presas. O exemplo mais extremo talvez seja um filme que teve, aliás, pouca aceitação do público: Orca onde se descreve a história de uma orca que se decide vingar dos seres humanos responsáveis pela morte do seu companheiro (a história remete de imediato para o argumento de Jaws - Tubarão, de Steven Spielberg).

Contudo, a pesquisa sobre a vida destes animais e a sua popularidade nos espetáculos aquáticos reabilitou quase por completo a imagem pública da espécie. De fato, o público rapidamente concedeu a este animal o estatuto de um respeitável e nobre predador, o que não aconteceu, por exemplo, com outros predadores, como o lobo, que continua a ter uma posição menos favorecida no imaginário popular.

O filme Free Willy (Libertem Willy, em Portugal) (de 1993) focou, com algum sucesso, a luta pela libertação de uma orca cativa. A baleia assassina (um macho) usada nas filmagens, Keiko, era originária de águas islandesas. Depois da sua reabilitação no Oregon Coast Aquarium em Newport, Oregon, voltou para os países nórdicos, no seu habitat natural, ainda que se mantivesse dependente dos seres humanos, até à sua morte, em Dezembro de 2003.

O derramamento de crude do petroleiro Exxon Valdez teve um efeito particularmente adverso na população de orcas do Alasca. Um dos grupos de orcas foi apanhado pelo derrame. Ainda que tenha consigo nadar para águas limpas, onze membros do baleal (cerca de metade) morreram nos dias e semanas seguintes. O derramamento teve outros efeitos a longo prazo, ao reduzir a quantidade disponível de presas necessárias para a alimentação. Em dezembro de 2004, cientistas da North Gulf Oceanic Society comprovou que o grupo AT1, agora apenas com sete membros, estava afectado por alguma forma de esterilidade, já que falhou, desde então, qualquer tentativa de reprodução. Espera-se que a sua população decresça até à sua extinção.

Tal como outros animais de níveis tróficos mais elevados da cadeia alimentar, a orca é particularmente susceptível ao envenenamento pela acumulação de bifenil policlorado (ou PCBs) no corpo. Uma pesquisa efetuada sobre orcas residentes ao longo da costa de Washington demonstra que os níveis de PCB são mais elevados nestes animais que os níveis encontrados em espécimes de foca-comum na Europa, envenenados e com a sua saúde gravemente afetada por este produto químico. Contudo, não há qualquer evidência de doença nas orcas, ainda que se suponha que tenha efeitos, por exemplo, na taxa de reprodução que poderá decrescer no futuro.

As orcas são obrigadas a enfrentar outras ameaças ambientais, como a indústria turística que, através da organização extensiva de atividades de observação de baleias, parece ter efeito em algumas mudanças comportamentais destes animais. Foi também provado que ruídos de elevada intensidade em navios têm modificado a frequência dos cantos e chamamentos específicos da espécie.Guardians of the Whales, Graeme Ellis and Bruce Obee, Whitecap Books; Killer Whales, John K.B. Ford, Graeme Ellis, Kenneth C. Balcomb, UBC Press.

Orca: The Whale Called Killer, Erich Hoyt, Camden House Publishing; Killer Whale, John K.B. Ford, pp669–675 in the Encyclopedia of Marine Mammals, Academic Press; National Audubon Society Guide to Marine Mammals of the World, Reeves, Stewart, Clapham and Powell. Alfred A. Knopf.;
Kharakter vzaimootnoshenii kasatok i drugikh kitoobraznykh in Morskie mlekopitayushchie (em russo - existem outras transliterações possíveis do título). A natureza das inter-relações entre orcas e outros cetáceos I.V.Shevchenko, 1975 pp173–175. (Onde se descreve a descoberta do caso de canibalismo entre orcas).

Reino: Animalia

Filo: Chordata

Classe: Mammalia

Ordem: Cetacea

Subordem: Odontoceti
Família: Delphinidae
Género: Orcinus
Espécie: O. orca.
Nome binomial
Orcinus orca

 


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